Aprendizados de uma start-up
JULIO VASCONCELLOS
FOLHA DE SÃO PAULO - 31/03/11
A cultura da empresa é tudo; sem ela, não temos motivação, não temos coesão, não temos nada
HOJE O Peixe Urbano completa um ano. 365 dias de uma start-up proporcionam um aprendizado muito acelerado, já que são equivalentes a mais de uma década de uma empresa já estabelecida. Nos intervalos das comemorações, tenho refletido muito sobre o último ano e tudo que aprendi, como empreendedor.
Hoje uma coisa está mais clara do que nunca: o sucesso da sua empresa é definido pelas pessoas que você atrai e a forma como você consegue motivá-las. Uma pessoa excelente vale mais do que cinco boas.
Pessoas excelentes atraem outras pessoas excelentes, que por sua vez sentem-se motivadas por trabalhar com elas. Já pessoas medianas tendem a se sentir ameaçadas por outros e contratam pessoas de performance inferior à delas.
Pessoas excelentes costumam estar sempre empregadas e sendo constantemente disputadas. Cabe a você vender sua visão e atraí-las para sua equipe. Caso seja possível, transforme-as em sócias.
No nosso caso, embora estejamos em um ritmo de contratação alucinante, nunca admitiríamos a contratação de uma pessoa mediana.
Basta uma única pessoa fraca na equipe para que a motivação caia, a energia baixe, o ritmo da equipe mude e o desempenho dos outros passe a ser comprometido.
Para cargos de liderança, mesmo quando estamos trabalhando com firmas de recrutamento que filtram com pente-fino os candidatos, costumamos entrevistar dezenas de pessoas para cada uma das vagas.
As melhores pessoas não são aquelas que são movidas apenas por dinheiro, mas sim aquelas que são motivadas, antes e acima de tudo, por desafios.
Elas sabem que, se superarem obstáculos cada vez maiores, o dinheiro virá naturalmente. Não reclamam do horário, de que acabou o café ou de que uma tarefa não está dentro do escopo do seu cargo. Aderem à visão da empresa, "vestem a camisa" e fazem as coisas acontecerem com segurança e agilidade.
No entanto, trazer pessoas excelentes é apenas metade do desafio, é preciso também mantê-las engajadas e motivadas. Acredito que o Peixe Urbano não teria sobrevivido ao primeiro ano se não fosse pelo trabalho extraordinário de pessoas extremamente dedicadas.
Qualquer empresa em franco crescimento vai chegar várias vezes ao seu limite, um ponto onde tudo está prestes a desmoronar. Cada vez que isso acontece, é o esforço hercúleo e inesperado de uma pessoa compromissada com a visão e o êxito da empresa que salva tudo.
A cultura da empresa é tudo. Sem ela, não temos motivação, não temos coesão, não temos nada.
Saiba que você é a personificação da cultura de sua empresa -não espere que sua equipe se comporte de determinada maneira se você não exibe esse comportamento. Os colaboradores de hoje demandam uma liderança ética, honesta e acessível. Os dias de empresas com "donos" distantes, com benefícios desiguais e atitudes superiores, acabaram.
Embora tenha convicção de que uma equipe extraordinária e uma cultura de sucesso sejam ingredientes indispensáveis para o sucesso de uma nova empresa, por vezes eles não são suficientes. Estar atuando em um mercado dinâmico, onde novas oportunidades estão proliferando em velocidade exponencial, também pode ser decisivo.
Tive a oportunidade de conversar sobre minha carreira, em diversos momentos diferentes, com Andy Grove, o "mítico" CEO da Intel.
Andy sempre me aconselhou a ir até onde a "ação estava acontecendo", pois, segundo ele, no meio de grandes tendências e mudanças no mercado, sempre encontraria as grandes oportunidades.
Estava seguindo esses conselhos quando decidi que voltaria a morar no Brasil, depois de cinco anos no Vale do Silício, para embarcar na onda da compra coletiva que lançamos por aqui. Não me arrependi.
Hoje vejo que a história de uma start-up é feita pela coleção de diversas histórias -histórias de pessoas agindo de forma extraordinária para concretizar uma visão que adotaram como sua.
Quando se está inserido "no meio da ação", são necessárias conquistas diárias para identificar e aproveitar oportunidades de alavancar o crescimento da empresa de maneira que sequer conseguíamos imaginar antes de elas aparecerem.
JULIO VASCONCELLOS, 30, economista, é fundador e presidente-executivo do site de compras coletivas Peixe Urbano.
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