Eles vão ser copiados
MARCELO SAKATE
Revista Veja
Genéricos dos remédios líderes de vendas chegam ao mercado. Sem patentes, laboratórios terão menos recursos para aplicar em pesquisa
O fim do século passado foi saudado como uma era de ouro para a indústria farmacêutica. Avanços tecnológicos, ganhos de produtividade e lançamentos simultâneos de remédios em diferentes mercados foram fatores que ajudaram a elevar o status do setor como um dos mais rentáveis da economia. Surgiram substâncias para aplacar alguns dos males mais comuns do homem moderno, tanto físicos (como colesterol e hipertensão) como psíquicos (depressão, ansiedade e disfunção erétil). As farmácias foram tomadas por blockbusters, como o Lípitor, usado para o tratamento de colesterol alto, e o Viagra, para a disfunção erétil. A americana Pfizer, a fabricante das duas drogas, não tardou a ser alçada ao posto de maior grupo farmacêutico do mundo. Pouco mais de uma década depois, no entanto, os grandes laboratórios atravessam um momento muito distinto - e desafiador. Até 2012, uma dezena dos medicamentos mais vendidos do mundo deixará de ser protegida por patentes. Na prática, isso significa que• eles poderão ser produzidos como genéricos por outros fabricantes e comercializados a preços em média 70% menores.
O surgimento de cópias tão eficazes quanto os originais beneficiará milhões de pessoas ao redor do planeta. Mas é uma notícia que traz uma indagação. Sem os seus atuais best-sellers e nenhuma grande novidade para ocupar as prateleiras, como os laboratórios farmacêuticos sustentarão os bilhões de dólares gastos em pesquisas? Esse é o segundo setor que mais investe em desenvolvimento de produtos (foram 113 bilhões de dólares em 2009), atrás apenas de computação e eletrônicos. Estudos apontam que, passado um ano do fim da patente de um medicamento, os genéricos conquistam em média 65% de suas vendas. Essa fatia é ainda maior na medida em que o remédio original é mais caro. No caso de dez dos medicamentos mais vendidos nos Estados Unidos cujas patentes estão para expirar até 2012, a perda anual de receita dos laboratórios deve superar 17 bilhões de dólares. Assim como se beneficiou no passado, a Pfizer agora será uma das empresas mais afetadas. Apenas o Lípitor, campeão de vendas no mundo, faturou 10,7 bilhões de dólares no último ano, metade no mercado americano.
Os efeitos das perdas das patentes já se fizeram sentir. A Pfizer anunciou que vai reduzir em até 30% suas despesas com pesquisas nos próximos dois anos e fechar seu centro de desenvolvimento em Sandwich, no sul da Inglaterra, como parte da nova estratégia de reorientar seus esforços em inovação em outras áreas da medicina. Até que se chegue ao produto final, o processo para desenvolver um remédio leva de dez a quinze anos, entre testes em animais e seres humanos. Uma triagem que começa com até 10000 compostos químicos culmina com só uma substância ativa aprovada pelas agências reguladoras. A patente que assegura a exclusividade do remédio vale a partir do pedido de registro nas agências de propriedade intelectual, o que costuma acontecer logo no primeiro ano de desenvolvimento, e estende-se por vinte anos. Isso significa que a janela de comercialização antes da chegada do genérico dura de cinco a dez anos. Ao mesmo tempo, a indústria dos genéricos cresceu em todo o mundo, apertando ainda mais a margem dos grandes laboratórios. No Brasil, por exemplo, já estão disponíveis nas drogarias as versões genéricas do Lípitor e do Viagra.
A nova fronteira para as empresas farmacêuticas é a biotecnologia, com o desenvolvimento de medicamentos a partir de organismos vivos. São os chamados remédios biológicos. É para essa área que afluem os investimentos, e os grandes laboratórios gastam parte de seu caixa para adquirir empresas especializadas nesse ramo. Isso não quer dizer que a química pura será abandonada. Especialistas lembram que existe um amplo campo de doenças sem cura ou cujo tratamento pode ser desenvolvido, entre elas Parkinson, Alzheimer e câncer, além de moléstias tropicais, como a malária. Resume Jorge Raimundo, da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa no Brasil (Interfarma): “A inovação é a palavra-chave da indústria farmacêutica e vai guiá-la por muitos e muitos anos. É a descoberta de medicamentos que garante o valor das empresas”.
O surgimento de cópias tão eficazes quanto os originais beneficiará milhões de pessoas ao redor do planeta. Mas é uma notícia que traz uma indagação. Sem os seus atuais best-sellers e nenhuma grande novidade para ocupar as prateleiras, como os laboratórios farmacêuticos sustentarão os bilhões de dólares gastos em pesquisas? Esse é o segundo setor que mais investe em desenvolvimento de produtos (foram 113 bilhões de dólares em 2009), atrás apenas de computação e eletrônicos. Estudos apontam que, passado um ano do fim da patente de um medicamento, os genéricos conquistam em média 65% de suas vendas. Essa fatia é ainda maior na medida em que o remédio original é mais caro. No caso de dez dos medicamentos mais vendidos nos Estados Unidos cujas patentes estão para expirar até 2012, a perda anual de receita dos laboratórios deve superar 17 bilhões de dólares. Assim como se beneficiou no passado, a Pfizer agora será uma das empresas mais afetadas. Apenas o Lípitor, campeão de vendas no mundo, faturou 10,7 bilhões de dólares no último ano, metade no mercado americano.
Os efeitos das perdas das patentes já se fizeram sentir. A Pfizer anunciou que vai reduzir em até 30% suas despesas com pesquisas nos próximos dois anos e fechar seu centro de desenvolvimento em Sandwich, no sul da Inglaterra, como parte da nova estratégia de reorientar seus esforços em inovação em outras áreas da medicina. Até que se chegue ao produto final, o processo para desenvolver um remédio leva de dez a quinze anos, entre testes em animais e seres humanos. Uma triagem que começa com até 10000 compostos químicos culmina com só uma substância ativa aprovada pelas agências reguladoras. A patente que assegura a exclusividade do remédio vale a partir do pedido de registro nas agências de propriedade intelectual, o que costuma acontecer logo no primeiro ano de desenvolvimento, e estende-se por vinte anos. Isso significa que a janela de comercialização antes da chegada do genérico dura de cinco a dez anos. Ao mesmo tempo, a indústria dos genéricos cresceu em todo o mundo, apertando ainda mais a margem dos grandes laboratórios. No Brasil, por exemplo, já estão disponíveis nas drogarias as versões genéricas do Lípitor e do Viagra.
A nova fronteira para as empresas farmacêuticas é a biotecnologia, com o desenvolvimento de medicamentos a partir de organismos vivos. São os chamados remédios biológicos. É para essa área que afluem os investimentos, e os grandes laboratórios gastam parte de seu caixa para adquirir empresas especializadas nesse ramo. Isso não quer dizer que a química pura será abandonada. Especialistas lembram que existe um amplo campo de doenças sem cura ou cujo tratamento pode ser desenvolvido, entre elas Parkinson, Alzheimer e câncer, além de moléstias tropicais, como a malária. Resume Jorge Raimundo, da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa no Brasil (Interfarma): “A inovação é a palavra-chave da indústria farmacêutica e vai guiá-la por muitos e muitos anos. É a descoberta de medicamentos que garante o valor das empresas”.
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