Petróleo não pressiona inflação
ALBERTO TAMER
O Estado de São Paulo - 24/03/11
Essa é a conclusão da OCDE em projeções feitas sobre os efeitos do aumento dos preços do petróleo na inflação mundial, hoje oscilando em torno de 2,5%. O maior índice é da China, 5%. O estudo (oecd.org) leva em conta um preço de até US$150 neste ano e no próximo. Isso confirma projeções do Fed, banco central americano, para o qual as pressões inflacionárias não vêm do petróleo, mas se opõem a previsões pessimistas da maioria dos analistas e institutos de pesquisas.
Para a OCDE, com uma alta de US$ 25 dólares no preço do barril de petróleo, o PIB mundial poderia recuar 0,5% no próximo ano, e a inflação apenas 0,75%. Não é algo para se assustar mesmo porque o comércio internacional voltou a crescer e as tensões cambiais provocadas pela China estão sendo absorvidas. Resta a crise do yen japonês, mas os bancos centrais injetaram mais de US$ 25 bilhões na última semana para conter a sua desvalorização.
"Considerando o baixo nível atual de inflação e tendo em vista as expectativas, não deve ser preciso nenhuma ação monetária para reagir a alta dos preços (do petróleo)" afirma o estudo da OCDE.
Mas a alta do petróleo não irá influenciar os preços já elevados das demais commodities? Aqui, também aqui, a OCDE tem uma atitude conservadora. "A energia representa 33% do custo da produção de grãos (desde o plantio até o consumidor final)," diz o estudo. Mas não é essa a causa dos preços atuais das commodities. Os fatores decisivos são o aumento da demanda, principalmente dos países emergentes, e a queda de safras, agora também na China.
Petrobras acalma. O presidente da empresa, José Sérgio Gabrielle, não se cansa de dizer que não vai reajustar os preços dos derivados por causa da alta cotação do petróleo. Não será isso que irá pressionar a inflação no Brasil. Não se sabe se o Brent, referência do mercado, ficará estável na faixa de US$ 110 e US$115. "Tanto a crise no Norte da África quanto o acidente no Japão são elementos de curto prazo,"afirmou ele. Gabrielli não fecha a porta para eventuais aumentos dos derivados, mas nos níveis atuais isso não é preciso.
A empresa produziu no País 2 milhões de b/d a um custo médio de US$ 12 o barril, e 250 milhões b/d no exterior, com a produção de novos poços na Nigéria. Importa petróleo leve e derivados, mas, devido mesmo aos preços internacionais, que interna no país, a Petrobras é uma empresa altamente rentável. Ganha muito e, agora, após tantos anos, está investindo muito no pré-sal.
Um temor novo. O clima no mercado do petróleo era de cautela, com apenas 50% das operações normais e os preços chegando ao nível mais alto dos dois últimos anos e meio. Entre US$ 105 o leve e US$ 115 o Brent. Havia uma nova preocupação com o prolongamento da intervenção militar na Líbia. Não é mais a queda da produção de petróleo, mas a possibilidade de Kadafi danificar as instalações de petróleo das empresas principalmente europeias no país, incendiar poços e destruir portos.
Saddam Hussein incendiou os campos do Irã, nas duas guerras, e do Kuwait. Kadafi não é diferente. Se mostra cada vez mais furioso, e para punir seu povo e o Ocidente, pode cumprir a ameaça de por fogo no Mediterrâneo. Essa uma razão para que se intensifiquem os bombardeios e se inicie uma operação terrestre. A outra, é impedir que seus tanques e canhões continuem bombardeando civis nas cidades rebeldes, como vêm fazendo deste o inicio da crise.
Agora, o euro. O Brasil tem condições para conviver com as repercussões da tragédia no Japão e uma nova alta do preço do petróleo. Está preparado também para as novas tensões financeiras na Eurozona, agora em Portugal. Tem sido até mesmo beneficiado com o aumento de investimentos externos, que nos dois primeiros meses do ano superaram todo 2010. Tem um mercado interno que o sustenta e um sistema financeiro saudável. Desta vez, sim, as ondas de fora podem se transformar apenas em marolas. É só fazer o que já se vinha fazendo. Investir em produção e cuidar da inflação que preocupa, mas ainda não assusta.
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