Até a próxima crise
CELSO MING
O ESTADO DE SÃO PAULO- 22/02/11
Foram pobres os resultados da reunião de ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais do Grupo dos 20 (G-20) realizada sexta-feira e sábado, em Paris. O conflito de interesses prevaleceu sobre a busca de políticas coordenadas de ataque às distorções. Não houve sequer acordo sobre critérios para definição de quais são os grandes desequilíbrios.
O comunicado diz que serão escolhidos indicadores na área da dívida pública, nos déficits orçamentários, nos desequilíbrios comerciais e nas transferências de capitais. Mas, desde logo, não há pista do que pode ser feito pelos governos quando forem estabelecidos esses indicadores.
Durante anos, todos ouvimos de dirigentes, analistas e críticos que a economia mundial, embora cada vez mais globalizada, está bloqueada por grandes distorções. Na primeira grande oportunidade que os líderes das finanças globais tiveram para dar o primeiro passo firme para enfrentá-las, vê-se que não há nenhuma disposição para isso.
Os Estados Unidos, por exemplo, nem sequer reconheceram que inundam os mercados com dólares emitidos do nada, declaradamente porque é preciso garantir a recuperação. Tanto o secretário do Tesouro, Tim Geithner, como o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Ben Bernanke, repetiram o velho estribilho de que o que é bom para os Estados Unidos é bom para o resto do mundo, na medida em que todos só terão a ganhar quando o sistema produtivo americano estiver reativado.
Ninguém entendeu o que o presidente da França, Nicolas Sarkozy, queria com a intervenção dos governos nos mercados de alimentos. Não há quem goste de excessiva volatilidade dos preços, mas como evitá-los, se os estoques estão zerados, o consumo está aumentando substancialmente nos países emergentes e as condições climáticas continuam produzindo quebra de safras? Não ficou claro se Sarkozy tinha por objetivo um esforço para recomposição de estoques; se pretendia o controle dos mercados de derivativos com o objetivo de evitar a especulação; se foi apenas para aumentar a transparência desse segmento do mercado "para possíveis intervenções futuras", como saiu no comunicado final do encontro; ou, então, se em última análise queria sinal verde para aumentar os subsídios aos produtores de alimentos na Europa.
De resto, as sugestões para quebrar o atual monopólio do dólar como moeda internacional de reserva não passaram de veleidades. Nenhum passo importante foi dado para a reforma do Sistema Monetário Internacional, em que Sarkozy tanto vinha insistindo.
O ministro Guido Mantega voltou satisfeito. Não prevaleceu nenhuma das propostas preliminares que poderiam prejudicar os atuais interesses do Brasil. Não haverá intervenção nos mercados de alimentos; e não haverá imposição de limites para a formação de reservas externas nem proibição de controles dos fluxos de capital, tal como o governo brasileiro passou a praticar.
Como esta Coluna já avançou em outra oportunidade, a leve recuperação da economia global acabou com o sentido de urgência dos senhores do mundo na busca de decisões conjuntas para a superação das distorções que estão por aí.
O momento é de retorno do regime anterior, de cada um por si. Até a próxima crise.
CONFIRA
Disparada
Os preços do West Texas Intermediate (WTI), a referência do petróleo negociado nos Estados Unidos, saltaram ontem, no pregão eletrônico, nada menos que 6,06%, fechando a US$ 91,42 por barril de 159 litros. Enquanto isso, o tipo Brent, do Mar do Norte, negociado em Londres para entrega futura, chegou a ultrapassar os US$ 108 por barril, mas fechou a US$ 105,74, alta de 3,14% em relação ao fechamento de sexta-feira. O fator de alta são os distúrbios políticos nos países islâmicos, especialmente na Líbia e no Irã, grandes produtores mundiais.
O comunicado diz que serão escolhidos indicadores na área da dívida pública, nos déficits orçamentários, nos desequilíbrios comerciais e nas transferências de capitais. Mas, desde logo, não há pista do que pode ser feito pelos governos quando forem estabelecidos esses indicadores.
Durante anos, todos ouvimos de dirigentes, analistas e críticos que a economia mundial, embora cada vez mais globalizada, está bloqueada por grandes distorções. Na primeira grande oportunidade que os líderes das finanças globais tiveram para dar o primeiro passo firme para enfrentá-las, vê-se que não há nenhuma disposição para isso.
Os Estados Unidos, por exemplo, nem sequer reconheceram que inundam os mercados com dólares emitidos do nada, declaradamente porque é preciso garantir a recuperação. Tanto o secretário do Tesouro, Tim Geithner, como o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Ben Bernanke, repetiram o velho estribilho de que o que é bom para os Estados Unidos é bom para o resto do mundo, na medida em que todos só terão a ganhar quando o sistema produtivo americano estiver reativado.
Ninguém entendeu o que o presidente da França, Nicolas Sarkozy, queria com a intervenção dos governos nos mercados de alimentos. Não há quem goste de excessiva volatilidade dos preços, mas como evitá-los, se os estoques estão zerados, o consumo está aumentando substancialmente nos países emergentes e as condições climáticas continuam produzindo quebra de safras? Não ficou claro se Sarkozy tinha por objetivo um esforço para recomposição de estoques; se pretendia o controle dos mercados de derivativos com o objetivo de evitar a especulação; se foi apenas para aumentar a transparência desse segmento do mercado "para possíveis intervenções futuras", como saiu no comunicado final do encontro; ou, então, se em última análise queria sinal verde para aumentar os subsídios aos produtores de alimentos na Europa.
De resto, as sugestões para quebrar o atual monopólio do dólar como moeda internacional de reserva não passaram de veleidades. Nenhum passo importante foi dado para a reforma do Sistema Monetário Internacional, em que Sarkozy tanto vinha insistindo.
O ministro Guido Mantega voltou satisfeito. Não prevaleceu nenhuma das propostas preliminares que poderiam prejudicar os atuais interesses do Brasil. Não haverá intervenção nos mercados de alimentos; e não haverá imposição de limites para a formação de reservas externas nem proibição de controles dos fluxos de capital, tal como o governo brasileiro passou a praticar.
Como esta Coluna já avançou em outra oportunidade, a leve recuperação da economia global acabou com o sentido de urgência dos senhores do mundo na busca de decisões conjuntas para a superação das distorções que estão por aí.
O momento é de retorno do regime anterior, de cada um por si. Até a próxima crise.
CONFIRA
Disparada
Os preços do West Texas Intermediate (WTI), a referência do petróleo negociado nos Estados Unidos, saltaram ontem, no pregão eletrônico, nada menos que 6,06%, fechando a US$ 91,42 por barril de 159 litros. Enquanto isso, o tipo Brent, do Mar do Norte, negociado em Londres para entrega futura, chegou a ultrapassar os US$ 108 por barril, mas fechou a US$ 105,74, alta de 3,14% em relação ao fechamento de sexta-feira. O fator de alta são os distúrbios políticos nos países islâmicos, especialmente na Líbia e no Irã, grandes produtores mundiais.
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