Seria um paraíso
George Vidor
O GLOBO - 17/01/11
A Região Serrana é quase um paraíso. Só não é porque não está imune às mazelas nacionais. Petrópolis, por exemplo, tem ainda 58% de seu território coberto por áreas verdes, mas sofre com ocupações irregulares. Do distrito de Correias, passando por Nogueira e chegando a Itaipava, há 200 ocupações às margens do Piabanha. Pela legislação deveriam estar a 50 metros do rio.
De Itaipava a Pedro do Rio, numa faixa estreita do Piabanha à antiga rodovia União e Indústria também existem muitas outras ocupações com casas precariamente construídas e que podem ser observadas por quem segue pela rodovia BR 040 (Rio-Juiz de Fora).
A criação de um parque fluvial linear, que acompanhará uma das margens do rio, tende a estancar essa ocupação, mas o "passivo" ambiental e social acumulado já é enorme na região, por causa de construções, sem proteção adequada, nas encostas. Na cidade de Petrópolis e nos bairros mais próximos o quadro é tão grave quanto por causa da degradação econômica que o país, o Estado e o próprio município enfrentaram por décadas a fio. A indústria têxtil, que chegara a empregar lá 45 mil pessoas, quase desapareceu (o número de empregados encolheu para menos de três mil no setor).
Cerca de 25 mil pessoas voltaram a trabalhar para pequenas e médias confecções, mas mesmo assim não a ponto de recuperar o patamar de quarenta, cinquenta anos atrás. Novas atividades surgiram, porém o saldo negativo deixado pelo empobrecimento anterior continuou muito grande.
Teresópolis já tinha favelas nos anos 60, mas nada comparável com o que veio a acontecer nos anos 80, após o fechamento de indústrias locais. Nova Friburgo se orgulhava nos anos 70 de só ter empresas que pagavam mais que o salário mínimo.
Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo se tornaram cidades de porte médio, porque ao redor a situação estava pior. Pela qualidade dos serviços que ofereciam, essas cidades atraíram inúmeras famílias da Baixada Fluminense, de Minas (Zona da Mata) e de municípios pequenos próximos. Infelizmente as oportunidades de geração de emprego e renda não evoluíram no mesmo ritmo de crescimento da população.
Coincidentemente ou não, o Rio de Janeiro como um todo passou por administrações desastrosas nesse período.
As várias localidades dos municípios da Região Serrana são cercadas por montanhas de grande altitude (os pontos culminantes estão acima de 2.300 metros). O visual dessa região é de uma beleza incomum - é um absurdo que, pelas dificuldades de acesso, poucas pessoas possam desfrutar disso - que só pode ser atribuído a uma arquitetura divina. No entanto, essas cadeias de montanha e a proximidade com o mar facilitam a acumulação de nuvens pesadas no verão e as tempestades são rotineiras. Cenas de carros levados pela correnteza para cima de muros de casas já foram vistas no Bingen (uma das entradas mais movimentadas da cidade de Petrópolis) em um trecho onde o rio tem só alguns palmos de profundidade na maior parte do ano.
Os vales e as encostas são os mais expostos às intempéries. Pela topografia da região pode-se dizer que não há qualquer lugar absolutamente seguro e protegido das tempestades na região. Mas é possível se minimizar os efeitos devastadores da natureza com a limpeza frequente dos rios, obras de contenção e drenagem, e especialmente pela desocupação de áreas de risco.
Ainda levará tempo até que a Região Serrana, o Rio de Janeiro e o Brasil consigam superar essa mazelas (nesse sentido os programas de habitação em curso são uma esperança).
No caso de Petrópolis, locais confrontantes com as montanhas que separam o município de Teresópolis são as mais atingidas (Vale do Cuiabá, Brejal). As demais estão intactas. As estradas de acesso permanecem desimpedidas. No entanto, em plena férias escolares, é possível que o movimento de turismo caia sensivelmente nas próximas semanas, pelo receio de novas chuvas e deslizamentos. Os dramas humanos poderão se somar a uma queda da atividade econômica na região e para tal as autoridades precisarão ficar também atentas, para que não haja mais esse sofrimento.
Com os eventos internacionais programados para os próximos anos, as oportunidades na hotelaria e gastronomia deverão se multiplicar no Rio e em várias partes do Brasil. O grupo americano Laureate enxergou isso nas instituições de ensino superior que adquiriu no Brasil e passou a oferecer cursos nesses dois ramos. A Laureate tem 600 mil alunos pelo mundo. A filosofia do grupo é manter as instituições com administrações independentes, mas os cursos estão sempre ancorados em uma escola internacional de excelência. No caso da gastronomia, esse papel é feito pelo Kendall College, de Chicago. E no de hotelaria, pelo Glion, da Suíça.
Com previsão para 400 alunos, a Laureate abrirá os cursos de gastronomia e hospitalidade este ano no Rio, por meio do Ibmr. O novo campus será na Barra da Tijuca, onde funcionava o colégio Anglo Americano. À frente do projeto, como reitora, está a executiva Elizabeth Guedes (ex-Ibmec). Como diretora para gastronomia e hospitalidade, responsável pelo Brasil, está a renomada Rosa Moraes.
Os alunos de gastronomia poderão fazer o curso em cinco semestres e se formarão como tecnólogos. Já para a hotelaria serão necessários oito semestres (com possibilidade de os três últimos serem cursados no Glion).
É um alento que estejam surgindo novas escolas para formação específica desses profissionais, dos quais o Brasil é carente. Não basta a intuição para que o país se sobressaia na prestação de serviços.
Primeira reunião do Copom no governo Dilma. Tudo indica que a estreia será com alta nas taxas básicas de juros. A maior parte das apostas é de um aumento de 0,5 ponto percentual.
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