A reforma ministerial de Dilma
VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SÃO PAULO - 01/12/10
Presidente eleita empurra PMDB para um cercadinho e reserva para si e para o PT pastas mais importantes
O gabinete de Dilma Rousseff é uma espécie de reforma ministerial do governo Lula. Nenhum demérito nisso. Aliás, em países politicamente mais estáveis, no bom sentido, quadros de governo vão e vem com a sucessão de administrações e partidos no poder. Em países mais conturbados e/ou vítimas de governos catastróficos, é mais comum que conjuntos quase inteiros de integrantes da alta administração caiam em desgraça. É verdade que algumas constâncias são repelentes. Por exemplo, o PMDB oferece costumeiramente os mesmos trastes e ameaças para assumir feudos em Brasília, não importa o partido no poder.
Mais interessante até agora é que a presidente eleita estende a influência do petismo-governismo para ministérios problemáticos tanto por negociarem interesses econômicos pesados como por terem sido ocupados pelos hunos do PMDB.
Dilma colocou sua gente, ou gente do lulismo, na Fazenda, no Planejamento, no BNDES, um nome amigável no Banco Central. Obviamente vai nomear os "ministros da casa", como talvez Antonio Palocci na Casa Civil (ou similar) e Gilberto Carvalho numa espécie de secretaria da Presidência. Parece que vai colocar Paulo Bernardo, ora no Planejamento, no Ministério das Comunicações. A Justiça ficaria com outro petista, talvez com o suave José Eduardo Martins Cardozo. Pode ser que o senador Aloizio Mercadante pare na Ciência & Tecnologia. Nesse aspecto, de "reserva de mercado" de nomeações, Dilma se parece mais com FHC do que com Lula.
O Ministério das Comunicações é um Cavalo de Troia, um carro-bomba e uma terra arrasada pelo PMDB. De lá saíram os girinos da saparia do mensalão. Há vergonheiras em série nos Correios. Há o Plano Nacional de Banda Larga, o "internet para todos", que pode ser desde boa coisa até uma tolice estatista. Dilma terá decidido lavar essa roupa suja em casa se confirmar a nomeação de Bernardo.
A presidente eleita também quer dar um jeito na Funasa, a Fundação Nacional da Saúde, com suas verbas facilmente dispersáveis e suas nomeações em penca, de alcance nacional. Quer tirar os aeroportos da Defesa. Já que pretende mexer nesses patrimônios históricos da bandalheira e da incompetência, poderia mexer também no Dnit, o departamento nacional dos descaminhos, ou melhor, da rodovias.
Embora a luta de facas no escuro não tenha terminado, Dilma parece além do mais encurralar o PMDB num cercadinho muito mais modesto que o imaginado pelo partido. Os peemedebistas ficariam com Minas e Energia, sempre com "infiltrados" de Dilma. Ficariam com a Saúde, mas o partido não se reconhece muito no possível ministro, o secretário da Saúde do Estado Rio de Janeiro, Sérgio Côrtes. Sobraria Cidades para Moreira Franco. Para tanto alarde e risco, até que ficou barato.
Dos ministérios mais importantes, resta saber o que será feito da Infraestrutura.
O mais importante, porém, está por aparecer, se é que vai aparecer. Não sabemos dos planos de Dilma para reduzir a mistura de burocracia com fisiologismo no serviço público. Não sabemos o que fará das agências reguladoras -pode não gostar delas tais como eram nos anos FHC, mas não é possível largá-las como o fez Lula, que as utilizou como depósito de nomeações.
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