A batalha do mensalão
Melchiades Filho
FOLHA DE SÃO PAULO - 21/12/10
BRASÍLIA - Não foi casual o aviso de Lula de que, fora da Presidência, vai se dedicar a desmontar a "farsa do mensalão". Nem a omissão do escândalo (e da grave crise política que ele causou) nas 2.200 páginas dos seis volumes que fazem o balanço oficial dos oito anos de seu governo. Tampouco o doce regresso de José Dirceu ao Planalto, para o ato festivo que lançou os livros.
Lula sabe que o PT terá pela frente um ano decisivo. E não só porque precisará lidar com Dilma Rousseff, uma presidente ausente da história e alheia ao cotidiano do partido.
Em 2011, enfim, o Supremo Tribunal Federal deverá julgar 38 denunciados pelo esquema de compra de apoio político no Congresso.
Mas não é só a "pessoa física" de José Dirceu que estará no banco dos réus. Ou de Paulo Rocha, João Paulo Cunha e dos demais petistas que respondem a acusações como formação de quadrilha, corrupção ativa, peculato e evasão de divisas.
O julgamento do mensalão no STF reabrirá as feridas que o segundo mandato de Lula conseguiu fechar. O noticiário voltará a tratar do caso. Adversários e falsos aliados, hoje intimidados, não deixarão de tirar casquinha -e não de Lula, que sairá com taxas recordes de prestígio e popularidade, mas do PT.
Além disso, é improvável que o tribunal, em plena era do "Ficha Limpa", encerre os trabalhos sem produzir nenhuma condenação.
O PT será a bola da vez, e daí a recaída de Lula -ele, que já se disse "traído pelas práticas inaceitáveis" e "indignado pelas revelações".
Como não pode partir para cima dos ministros do STF, resta agora ao presidente (e ao PT) negar de todo modo os crimes, ressuscitar a tese do "golpismo", reabilitar envolvidos e, sobretudo, desqualificar a imprensa: é urgente, ao menos, influir na narrativa do julgamento.
Se a descoberta do mensalão foi o divisor da era Lula, o desfecho do escândalo tem tudo para ser um marco na trajetória do PT e também no debate do "controle da mídia".
*Melchiades Filho é jornalista.
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