O melhor destino
JANIO DE FREITAS
FOLHA DE SÃO PAULO - 26/12/10
Lula não consegue nem sequer controlar sua perturbação com a saída da Presidência
DEIXAR A Presidência quando desfruta da aprovação de 80 e tal por cento da opinião pública não pode ser fácil para Lula, nem o seria para presidente algum. Por muito menos, Juscelino já saiu do palácio, rumo ao aeroporto, com os primeiros passos de sua candidatura ao retorno.
Lula, porém, não consegue nem sequer controlar sua perturbação. Obcecado, cedo ainda, com a saída inevitável, veio em um crescendo a essas referências que o levaram pelo patético a dentro. Chegou ao despropósito de fazer sua despedida pública antes mesmo do Natal, a oito dias de deixar a Presidência.
Se algum sinal se pode intuir daí para o futuro, não é tranquilizador.
Futuro, quanto a Lula, em que já cabem muitas coisas dissociadas, desde ser apenas um homem que volta à rua, ou um dedicado aos problemas da África. Ou um viajante permanente para pregações pelo Brasil afora, ou idem nas extensões internacionais, e, sobretudo, "um exemplo de ex-presidente" em relação ao novo Poder. Não é o que a dificuldade do desapego umbilical sugere.
Nem a lembrança a que remete. Lá de trás, dos primórdios da ideia fixa: "Vou dizer o que achar errado e vou dar meus palpites". Esta é a ideia de futuro mais próxima do Lula que se vê agora. Seria a transferência de emoções pessoais perturbadoras para perturbação governamental.
Qualquer que seja o grau da crítica e do palpite não pedidos, o que seria apenas palpite e crítica anódina à Presidência -como as de Fernando Henrique a Lula- no caso de Dilma Rousseff, a criatura, assumem as dimensões e os sentidos originários do criador. Perturbação na certa, pessoal, governamental e político-partidária.
Ora os assessores de Lula informam que passará um mês em descanso no exterior, ora que ficará por uma semana em praia brasileira, ou que apenas volta a seu apartamento paulista, agora dignificado pela duplicação.
Não faz diferença. Pode até instalar-se em Brasília, onde não é hábito se ocupar a sério com governo. É o futuro necessário e o que Lula tem a fazer de melhor.
SUJAS TAMBÉM
Só por acaso a miudeza de atos reprováveis é captada, por parte de indicados à composição do governo, em tempo de não os incluir nas relações de escolhidos.
É o que se dá com as revelações de abusos nos gastos da "verba indenizatória", esta excrescência da vida parlamentar brasileira.
Nem por ser uma dentre tantas, de valores individuais em geral baixos, deixa de ser muito comprometedora.
Se a percepção em tempo útil é incomum, a reação não precisa sê-lo.
O "vou devolver o gas- to", próprio de todos os flagrados, não anula a improbidade.
E a improbidade deve anular, por dever dos futuros ou vigentes governantes, as nomeações dos indicados de contas sujas, pequenas fichas sujas.
Na relação de indicados ao novo ministério há meia dúzia deles (por ora) que testam Dilma Rousseff. Testam para nós outros.
EM VÃO
A culminância política de Orestes Quércia foi, como está lembrada por tantos, sua eleição ao Senado em 1974, quando a oposição deu um grande susto na ditadura, em quase todo o país. Foi o momento nacional de Quércia.
Mas a verdade é que, no Senado, deu-se a reversão. Quércia sumiu no silêncio e na omissão. Deliberados, com toda clareza.
Passado o aturdimento inicial pela inutilidade da vitória exuberante em São Paulo, oposicionistas davam-se uma explicação sobre o Quércia inesperado: o SNI tinha feito mais uma. Qual, ou se fez, não ficou provado.
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