Menos emprego
CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 05/12/10
Se é verdade que tudo quanto foi dito apenas uma vez permanece inédito - palavras de Nelson Rodrigues -, convém repetir que uma das novidades desta crise financeira é a descoberta pelos empregadores de que podem produzir mais com menos gente. O que, evidentemente, é ruim para a criação de vagas.
Ou seja, vai ser preciso que a economia dos Estados Unidos e da Europa cresça muito mais do que vem crescendo para que se recupere o nível de emprego prevalecente antes da crise.
Nessa semana, por exemplo, o Departamento do Trabalho dos Estados Unidos mostrou que a produtividade da mão de obra no terceiro trimestre deste ano cresceu 2,3% sobre o trimestre anterior. Ao longo de 2009, já tinha aumentado entre 3,4% e 8,4%, dependendo do setor. É mais ou menos como dizer que a mesma produção obtida com 100 funcionários pode sair, três meses depois, com apenas 97.
É normal que em períodos de desaceleração do crescimento econômico, como os países avançados estão enfrentando desde 2008, a produtividade do trabalho cresça mais fortemente. É o trabalhador que teme ser despedido e, por isso, está disposto a render mais. Ou é o próprio empresário que adia a contratação de pessoal porque não sabe até quando vai a paradeira e não quer conviver com aumento desnecessário de custos. Ou, então, porque o empresário quer compensar com menos mão de obra o salto dos custos das matérias-primas e dos insumos. Afora isso, o empregador pode ter compreendido que fica mais barato importar da China certos produtos ou peças do que continuar a produzi-los, especialmente nesse clima de instabilidade e insegurança.
Isso parece mais acentuado nessa fase de retração da economia porque está conjugado com fatores que não atuavam em outros períodos anteriores de recessão. Trata-se, principalmente, do maior emprego de Tecnologia da Informação, que poupa não só mão de obra, mas também instalações, máquinas e capital de giro. Ou seja, o uso de mais informática pode dispensar pessoal da administração, do almoxarifado ou do chão de fábrica, que, embora prescindível, eventualmente continuava pela empresa.
Nos Estados Unidos, a forte demissão de funcionários pelas administrações municipais parece associada à maior informatização das repartições.
Sexta-feira, o Departamento do Trabalho dos Estados Unidos divulgou os números do emprego levantados em novembro. E o que se viu foi desanimador: um aumento de gente sem trabalho, de 9,6% para 9,8% da população ativa, completando o mais longo período de desemprego acima de 9% desde a 2.ª Grande Guerra.
Essa situação se encavala com outra regra cruel: quanto mais tempo o trabalhador permanece desempregado, tanto mais difícil fica sua recontratação. Entre um recentemente desempregado e um parado há meses, o recrutador tende a preferir o primeiro. Desânimo e perda de habilidades profissionais completam o estrago.
Tudo isso significa que a missão do Fed (o banco central dos Estados Unidos), de zelar pela obtenção do pleno emprego, deve ficar ainda mais complicada e tende a acentuar sua disposição de despejar dólares no mercado mediante a recompra de títulos públicos.
Volte, filho meu
Matéria do New York Times de sexta-feira conta que alguns governos estão aproveitando o mau momento do emprego nos Estados Unidos para atrair, com incentivos especiais, de volta a seus países de origem, pessoas que vivem há anos por lá. É o caso do Equador, da Etiópia, da Jamaica e do Marrocos.
Isenção alfandegária
O governo do Equador, por exemplo, oferece a emigrados equatorianos os benefícios do programa "Welcome Home": certa quantia em dinheiro para recomeçar um negócio na pátria mãe, passagem de ida (no caso, de volta) por via aérea, e isenção de tributos alfandegários para os bens pessoais e de familiares que trouxerem na bagagem.
Gente mais treinada
Do ponto de vista do governo do país de origem, trata-se de uma política de interesse público na medida em que traz de volta para casa um cidadão mais amadurecido, fluente em língua estrangeira e treinado em novas habilidades.
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