Cada um por si
Regina Alvarez
Os resultados da cúpula do G-20 serão conhecidos hoje, mas não há expectativa de grandes avanços na pauta mais importante, que é a guerra cambial. Um comunicado com recomendações genéricas para que os países caminhem na direção de uma taxa de câmbio determinada pelo mercado, sem deixar claro como se reverte o atual quadro de desequilíbrio, é o mais provável.
Em nome da soberania, Estados Unidos e China — as duas potências que estão no centro do problema cambial — evitam sancionar compromissos que interfiram nas suas políticas internas.
A China resiste a qualquer imposição de fora para a valorização do yuan, e os Estados Unidos continuam a sustentar que o derrame de liquidez na economia americana é a receita adequada para reanimá-la.
Ao contrário de 2008, quando a ação coordenada do G-20 teve importante papel no esforço para sair da crise global, agora o que prevalece é o “cada um por si”, e o Brasil está no meio do tiroteio.
— O grande problema é decidir essa governança.
Que país se disporia a abrir mão de sua soberania na condução da política monetária? — pergunta o economista Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central.
Neste momento, apesar dos discursos que condenam a guerra cambial no mundo e alertam para os riscos de “desequilíbrios externos insustentáveis”, os países estão olhando para dentro de suas economias, inclusive o Brasil, embora o presidente Lula tenha dito o contrário em Seul, ao declarar que estava mais preocupado com a desvalorização do dólar do que com a valorização do real.
Os discursos duros de Lula e do ministro Mantega, com críticas aos EUA e à China, não interferiram nos rumos da cúpula do G-20, mas contribuíram para marcar a posição do Brasil favorável ao câmbio flutuante e a uma postura mais ética no comércio internacional.
Conhecido o resultado da cúpula e frustradas as expectativas de um comando efetivo do G-20 para frear a guerra cambial, o Brasil pode ficar mais à vontade para adotar medidas prudenciais capazes de frear o fluxo excessivo de dólares na nossa economia ou mesmo a entrada de produtos chineses barateados artificialmente.
Se os grandes só estão olhando para o seu umbigo, por que não faríamos o mesmo?
FMI do B
Avançam na Europa as negociações para a criação de um “Fundo Monetário Europeu”.
A iniciativa está sendo liderada pela Alemanha.
Por ser o país mais rico da região, a potência sabe que pagará a conta em caso de moratória de algum membro da Zona do Euro. A economista Monica de Bolle, da Galanto Consultoria, chama a iniciativa de “pequena revolução”, porque, pela primeira vez, será criado um órgão com poder efetivo para forçar a reestruturação das dívidas desses países.
— O FMI não tem jurisdição legal para exigir que um país reestruture suas dívidas. Isso é bem mais fácil de contornar na Zona do Euro, onde existe uma Corte de Justiça Europeia, que pode funcionar como uma corte de falências soberanas — explica Mônica.
Enxurrada
O balanço da Anbima sobre oferta de ações na Bovespa mostra como aumentou o apetite dos americanos por esses investimentos. Eles continuam sendo os estrangeiros com maior participação nessas aplicações e ainda ampliaram a sua fatia. Do total de ofertas até setembro, 50,6% das ações foram parar nas mãos de estrangeiros. Entre eles, 73,9% são americanos, e 20,5%, europeus. Em 2009, a participação dos americanos era de 68,4%; enquanto a dos europeus era de 27,2%. A liquidez de dólares a juros zero estimula a vinda dos americanos para o Brasil. E ajuda a derrubar o câmbio.
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