Queda de braço
Miriam Leitão
O Globo - 09/11/2010
Os cenários para 2011 ainda estão muito confusos. As incertezas sobre a economia americana e sobre as reações do resto do mundo à guerra cambial não ajudam nesse momento de transição por aqui. O mercado está atento a todos esses movimentos e continua a passar seus recados. O mais evidente é em relação à inflação e à taxa de juros.
Ontem, o Banco Central divulgou pesquisa feita com 64 instituições financeiras, que reforça a posição do mercado, endossada pela autoridade monetária. A pesquisa indica que a queda na taxa de juros, sem risco de inflação, passa necessariamente pela redução dos gastos correntes do governo.
Acontece que no governo não há consenso sobre essa receita, nem na atual equipe econômica, nem entre assessores próximos da presidente eleita, Dilma Rousseff.
No discurso pós-eleição, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, tem defendido uma gestão mais austera das contas públicas para “arrumar a casa” e facilitar a transição de Lula para Dilma. Mas a pressão por gastos é muito grande, em parte por compromissos assumidos no ano eleitoral, e o cobertor do Orçamento é curto. Assim, é provável que o novo governo anuncie alguma medida de impacto na área fiscal para ajustar as contas em um horizonte de quatro anos, mas dificilmente haveria um corte nos gastos correntes na ordem de 1% do PIB, sugerido pelo mercado como saída segura para a redução da inflação e dos juros.
Nos bastidores da transição, colaboradores próximos de Dilma buscam tranquilizar a quem pergunta como seria essa estratégia de testar um novo patamar para a taxa Selic, abaixo da atual. Dizem que não seria na “canetada”, nem abalaria o tripé da economia, mas fica cada vez mais evidente que alguma coisa será tentada além do que sugere a cartilha.
Dinheiro verde I
Estudo da FGV e da Pnuma sobre a atuação de bancos públicos no financiamento de uma economia de baixo carbono mostra que a eficácia do credito verde ainda é pequena. De um lado, falta interesse dos empresários nessas linhas pela complexidade e excesso de exigências na liberação. De outro, é baixa a representatividade do tema no planejamento estratégico das instituições. Isso faz com que o crédito fique disperso nas políticas dos bancos.
— As instituições reconhecem a importância do financiamento público como indutor de uma economia de baixo carbono, mas o processo decisório ainda é orientado por objetivos pontuais, de curto prazo e com baixo envolvimento da alta gerência — diz Paula Peirão, do Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV/EAESP.
Dados do TCU mostram que, entre 2008 e 2009, as linhas de crédito público para sistemas sustentáveis e recuperação de áreas degradadas, por exemplo, tiveram só 25% de utilização.
Dinheiro verde II
A maior parte do crédito é destinado à mitigação da emissão de gases de efeito estufa, mas falta criar produtos que financiem a adaptação das áreas atingidas.
— Áreas que sofrem alagamentos, por exemplo, precisam receber dinheiro para minimizar os estragos.
A mesma coisa em regiões que sofrem com a seca — explica a pesquisadora Paula Peirão.
O estudo, que será divulgado hoje, analisou balanços do BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, e também de Fundos Constitucionais de Financiamento.
Sustentável
O Ministério do Planejamento começa a testar um novo modelo de obras na Esplanada dos Ministérios.
Encomendou a escritórios de arquitetura pré-projetos para a construção de um prédio anexo “ambientalmente sustentável”.
A ideia é usar tecnologia que economize água e energia, tornando o edifício modelo para a construção de outros prédios públicos. O vencedor receberá R$ 2 milhões para a elaboração do projeto. Com o sinal verde de Dilma Rousseff, o edital para a construção pode sair no começo do ano que vem.
Figurinhas
A presidente eleita, Dilma Rousseff, e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, embarcaram ontem à noite rumo a Seul, para participar da reunião do G-20, em voo que chegará à capital da Coreia do Sul na quarta-feira.
Serão quase 30 horas de convívio na primeira classe, onde haverá tempo para muita conversa. Mantega figura na lista de cotados para permanecer no cargo no governo de Dilma, mas ainda não foi confirmado.
AGILIDADE: A Confederação Nacional dos Municípios (CMN) lança hoje um novo sistema de pregão eletrônico, com software mais moderno, que atenderá a mais de 4 mil municípios, reduzindo custos de suas compras.
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