Ajuste difícil
Miriam Leitão
No meio de tantas interrogações sobre a composição da equipe da presidente eleita, Dilma Rousseff, e sobre os rumos da política econômica, algum compromisso firme no caminho da austeridade fiscal deixaria o mercado mais tranquilo. O ministro Paulo Bernardo tem emitido sinais nesse sentido, mas a margem de manobra do Orçamento de 2011 é muito pequena para qualquer esforço mais robusto
A receita líquida de tributos em 2010 — descontada a parcela transferida a estados e municípios — está em 20,2 pontos percentuais do PIB. Cresceu 2,45 pontos no governo Lula e no ano que vem deve aumentar ainda mais. O projeto do Orçamento prevê 20,6% do PIB em receitas, mesmo com uma expectativa de crescimento menor da economia. Visto por esse lado, o cenário pode parecer positivo, mas é do lado das despesas que mora o problema.
Como é público e notório, as despesas do Orçamento cresceram muito no governo Lula, principalmente os chamados gastos correntes, que engessam as contas, porque depois de contratados não podem ser cancelados. Os gastos com a Previdência e com pessoal estão nessa categoria.
No caso de pessoal, embora as despesas tenham se mantido estáveis em percentual do PIB, abaixo de 5 pontos, o que é alardeado pelo governo, subiram fortemente em relação à inflação.
Entre 2003 e 2010, a folha cresceu 114%, enquanto a inflação ficou em 63%.
As despesas correntes — pessoal, previdência, gastos com a máquina e programas de transferência de renda — subiram de 15,04% em 2003 para 17,51% do PIB em 2010, diferença de 2,47 pontos. E, em 2011, devem chegar a 17,76% do PIB, o que equivale a R$ 691 bilhões. É muito dinheiro, mas está praticamente todo carimbado. Pelos cálculos da Consultoria de Orçamento da Câmara, só uma fatia muito pequena, de R$ 57 bilhões, poderia receber cortes, limitados ao funcionamento da máquina administrativa.
Os investimentos previstos no Orçamento são de R$ 54,4 bi, 1,4% do PIB, mas ninguém acredita que o governo Dilma passará a tesoura nessa fatia , como aconteceu no passado, em nome de um ajuste fiscal.
Assim, a intenção do governo de fazer um superávit de 3,3% do PIB, em 2011, sem descontar as obras do PAC, expressa nos bastidores, é difícil de ser cumprida, pois só foram reservados R$ 49,7 bilhões para esse fim no Orçamento, equivalente a 1,28% do PIB. Para alcançar a meta global de 3,3%, a contribuição do governo federal precisaria chegar a 2,15% do PIB, um esforço adicional de R$ 34 bilhões.
Bem pior
O que surpreendeu o mercado na noite de terça-feira foi o tamanho do rombo descoberto no banco PanAmericano, que exigiu um aporte de R$ 2,5 bilhões do Fundo Garantidor. Fontes informaram que já havia uma sensação de desconfiança em relação à solidez da instituição, mas a parceria com a Caixa Econômica em julho deste ano, com o aval do Banco Central, deixou os investidores um pouco mais tranquilos.
De fato, quem olha para o desempenho das ações do banco nos últimos 30 dias percebe que havia algo de estranho. Entre 13 de outubro e o fechamento em 9 de novembro, antes, portanto, do anúncio do socorro, os papéis acumularam queda de 24,9%, saindo de R$ 9,01 para R$ 6,77. Ou seja, a instituição perdeu um quarto de seu valor de mercado em menos de um mês. No mesmo período, o índice Ibovespa ficou praticamente estável, na casa dos 71.600 pontos.
Dívida histórica I
A participação dos negros em cargos de chefia vem crescendo, mas em ritmo bem lento, revela a pesquisa “Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 Maiores Empresas Brasileiras”, do Instituto Ethos, edição 2010.
Entre os executivos, houve alta de 2,7 pontos de 2001 a 2010. Já no nível de gerência, o crescimento é de 4,4 pontos, desde 2003.
Dívida histórica II
O resultado de 2010 mostra que os negros continuam com baixa participação nos cargos executivos: são apenas 5,3% do total, contra 93,3% de brancos. A situação é um pouco melhor nos postos de gerência: 13,2%, contra 84,7% dos brancos. Em vagas de supervisão, eles são 13,2%, e no quadro funcional, 31,1% do total.
INVESTIMENTOS: O presidente da gestora de investimentos imobiliários Tishman Speyer, Rob Speyer, veio ao Rio conversar com o prefeito Eduardo Paes sobre os projetos Porto Maravilha e Olimpíadas 2016.
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