sexta-feira, novembro 19, 2010

LUIZ GARCIA

O poder dividido 
LUIZ GARCIA

O GLOBO - 19/11/10

Está chegando a hora de botar o samba na rua, mas a briga pelo comando das alas e a escolha dos destaques ainda está comendo feia nos barracões da escola. Claro que não estou falando de carnaval: este espaço não é ocupado por assuntos realmente sérios. 
O tema é a troca de cadeiras - às vezes, de cadeiradas - em Brasília. Em outras palavras, o PMDB e mais quatro partidos aliados do governo não estão educadamente esperando convites para integrarem o ministério Rousseff. Anunciaram a formação de um bloco parlamentar com a declarada intenção de cobrar presença forte no novo governo. 
Até ontem, não se sabia ao certo a força do bloco: os peemedebistas contam com a participação do PP - e dirigentes pepistas (que não se percam pelo nome) declararam independência. No fim das contas, vai ser independência em termos, que ninguém é de ferro. E o PP claro que faz questão de manter o espaço que ocupa no governo Lula. Sem o partido, o bloco do Planalto terá 160 deputados; com ele, serão 202. É razoável apostar que o número será esse mesmo: os pepistas costumam sentir falta de ar e fraqueza nas pernas longe do poder. 
E no poder sempre há lugar para todos os amigos de fé. Num levantamento recente sobre o governo Lula, foram contados 23 ministérios, dos quais, descontada a parte do leão petista, três estavam com o PMDB e os restantes nas mãos de cinco legendas aliadas: uma pasta para cada uma. No próximo governo, os aliados, seja qual for a quota do PT, anunciaram que querem um total de 16 ministérios. 
A presidente eleita, segundo petistas, já indicou que deseja ter liberdade nas suas escolhas. Se ela se deu ao trabalho de afirmar o que deveria ser óbvio, é sinal de que a coisa anda feia. Presidentes não costumam ter a necessidade de anunciar o desejo de autonomia para governar. 
A esta altura, o que se pode imaginar - ou temer - é que o novo governo terá tantos ministérios quantos forem necessários para aplacar a fome de poder dos seus aliados. Isso, independentemente do que pensar a nossa primeira presidenta (no feminino, como manda o Houaiss) sobre a estrutura do Executivo de seus sonhos.

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