Medidas sem efeito para conter o fluxo de dólares
EDITORIAL
O Estado de S.Paulo
O fluxo cambial no mês de outubro apresentou saldo positivo de US$ 6,917 bilhões, com fluxo comercial de US$ 1,777 bilhão e financeiro de US$ 5,147 bilhões, resultado que mostra que, até agora, as medidas do início de outubro para conter a entrada de dólares não tiveram grande efeito.
Podia-se pensar que as medidas afetariam de modo positivo as exportações. E, de fato, o total das operações de câmbio (que não se confunde com o resultado das exportações na balança comercial) cresceu US$ 2,448 bilhões, enquanto as exportações registradas na alfândega apresentaram redução de US$ 452 milhões. Foi o maior resultado registrado em dois anos, dando a impressão de que os exportadores acreditaram numa provável desvalorização do real, repatriando receitas que haviam deixado no exterior e que, na conjuntura internacional atual, têm rendimentos muito reduzidos. Convém assinalar que a desvalorização do dólar se está traduzindo em aumento do preço das commodities, o que ajudou a aumentar as receitas em dólar.
As importações baixaram ligeiramente, efeito, talvez, da desvalorização do real que ocorreu logo depois das medidas do Conselho Monetário Nacional (CMN), mas que na sequência não se consolidou.
O saldo das operações financeiras, as mais sensíveis às medidas das autoridades monetárias, foi positivo em US$ 5,141 bilhões, um dos maiores registrados em dois anos, com a exceção de outubro de 2008, com a emissão do Banco Santander de US$ 14,5 bilhões, e de setembro deste ano, com a emissão da Petrobrás de US$ 16,7 bilhões.
As compras de divisas somaram US$ 34,5 bilhões, ante US$ 49,1 bilhões no mês anterior; as vendas atingiram US$ 29,4 bilhões, ante US$ 32,4 bilhões. É um quadro que leva a concluir que as medidas restritivas à entrada de capital estrangeiro não surtiram grande efeito (excluindo o aumento de capital da Petrobrás), ainda mais quando se registram apenas sete dias no mês em que o movimento financeiro ficou negativo.
Tudo indica que os investidores estrangeiros conseguiram compensar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 4% sobre suas operações; estimaram que as operações de arbitragem, com a Selic de 10,75%, são ainda atraentes; e que as aplicações em Bolsa, com a política monetária norte-americana, tendem a favorecê-los.
Verifica-se que, no caso de operações de crédito, os bancos procuraram compensar o IOF com elevação da taxa de juros, um fato paradoxal num mundo em que a liquidez está aumentando.
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