A guerra cambial
Paulo Guedes
O GLOBO - 04/10/10
O dólar continua em queda nos mercados de moeda. Enfraquece ainda mais contra o real. As autoridades brasileiras estão inquietas. O ministro da Fazenda e o presidente do Banco Central advertiram em fórum internacional quanto aos perigos de uma iminente "guerra cambial". As desvalorizações provocadas pelas mais importantes economias do mundo ameaçam deflagrar reações em cadeia na busca de competitividade e em defesa do emprego, o que seria uma verdadeira bomba nuclear contra o comércio mundial.
A manifestação simultânea de Mantega e Meirelles disparou expectativas de que o governo poderia recorrer ao aumento do imposto sobre operações financeiras (IOF) e também reforçar as habituais compras de reservas internacionais pelo Banco Central por meio de aquisições programadas para o Fundo Soberano recentemente criado. Medidas típicas de um arsenal macroeconômico convencional, o imposto para calibrar fluxos financeiros em resposta a diferenciais de taxas de juros foi usado pelos americanos, enquanto a sustentação das taxas de câmbio por meio das compras de dólares por fundos soberanos nacionais é de uso corrente na Ásia e no Oriente Médio.
Uma enxurrada de dólares corre para o Brasil. A estabilidade política, o mercado interno de consumo de massa, as expectativas favoráveis de inflação e crescimento, além das elevadas taxas de juros, atraem para o país capitais de todos os tipos. A força gravitacional é ainda maior enquanto as economias avançadas permanecem atoladas no baixo crescimento. E tudo indica que vá levar tempo para que saiam desse pântano.
Pois foram devastadores os efeitos de excessos financeiros cometidos contra os regimes fiduciários e as redes de solidariedade que sustentam a civilização ocidental contemporânea.
A "guerra cambial" é apenas um sintoma de um fenômeno bastante mais complexo: a "guerra mundial por empregos", há muito deflagrada e para a qual só agora o Brasil desperta. Os asiáticos praticam há décadas a flutuação cambial "suja", roubando empregos dos demais países em tempos de desaceleração econômica mundial. O aumento do IOF e a flutuação "suja" pelas compras do BC e do Fundo Soberano são recursos válidos, mas de efeitos moderados. Armamento poderoso para a "guerra cambial" é a mudança para um regime fiscal robusto, sustentável, que permita derrubar os juros, desvalorizar o real e acelerar o ritmo de crescimento econômico.
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