O vale-tudo de Dilma
Roberto Jefferson
BRASIL ECONÔMICO - 20/10/10
O jornalista e historiador Phillip Knightley, após pesquisar o trabalho dos correspondentes de guerra, conclui que, nos conflitos militares, a primeira vítima é sempre a verdade. Nas disputas eleitorais também, por mais indispensáveis que sejam. Na atual campanha presidencial, a verdade foi fulminada em várias ocasiões, mas em nenhuma ocorreu um morticínio como nas pesquisas eleitorais. Emmeio ao "fogo amigo", a campanha da candidata petista parecia avançar sem grande resistência, até que se tornou claro que a vitória já no primeiro turno não estava assegurada.
Com a popularidade nas alturas e sentindo-se invencível, Lula tomou a possibilidade de um segundo turno como uma afronta pessoal, apesar de tudo indicar que seria vencido por sua criatura política. Esquecendo que o Lula vencedor era o "Lulinha Paz e Amor", incorporou o "João Ferrador", personagem do Jornal do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC nos anos 1970 cujo bordão era "Hoje eu não tô bom!" Deixou os afagos de lado, decidido a passar o trator por cima de todos que surgissem pelo caminho, destilando ódios e distribuindo insultos e ameaças. Consumada a vitória com sabor de derrota, engatou marcha à ré. Qual Lula atuará publicamente neste final de campanha ainda não está claro,mas uma coisa é certa: contra o Lula, só o Lula.
Se os excessos de Lula ajudaram a levar a eleição para o segundo turno, agora a oposição vai ter de mostrar seus acertos. O que falta ao Serra para suplantar o Dilma-Lula? Teria de dar mais ênfase ao governo de FHC, mostrando, por exemplo, que as privatizações trouxeram benefícios ao Brasil; dizer que na verdade as estatais não são do povo, como querem fazer crer Lula e o PT, mas dos sindicatos e dos partidos políticos e estão na origem da corrupção que estarrece o país.
Muito da popularidade de Lula e o que vinha sustentando a eleição de Dilma é o Bolsa Família (ela recebeu 46,91% dos votos válidos em todo o país, mas em dez estados-oito deles no Nordeste, ultrapassou a marca de 50%, suficiente para vencer já no primeiro turno. Desses dez, nove fazem parte da lista de dez estados com maior abrangência do Bolsa Família", segundo O Globo). De onde se conclui que o primeiro grito não é o da urna, mas do estômago. O voto começa no tripeiro, depois vêm razão e emoção.
Serra precisa insistir ainda em falar sobre o 13º para os beneficiários do Bolsa Família, no aumento de 10% para os aposentados, enfim, dar à cobra o veneno da cobra. O problema é que se Lula tem seu lado "João Ferrador", Serra tem sua parte Ciro Gomes, com sua capacidade incomparável para detonar a própria candidatura.
A campanha para o segundo turno trouxe um Serra renovado. Até seu programa melhorou.
Como uma eleição que vai ser definida nos descontos e os dois times têm jogadores que não resistem à tentação de chutar o adversário na pequena área e na frente do juiz, tudo é possível.O certo é que entramos na fase do vale-tudo-e nisso Dilma conta comum craque.
Se os excessos de Lula ajudaram a levar a eleição para o segundo turno, agora a oposição vai ter de mostrar seus acertos
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