sexta-feira, outubro 15, 2010

LUIZ GARCIA

Caixinha de surpresas 
Luiz Garcia
O GLOBO - 15/10/10

O segundo turno é uma segunda chance. Primeiro, claro para os candidatos. Não basta a nenhum dos dois repetir estilo e estratégias da primeira votação. A chave do sucesso, agora, está na sua capacidade de conquistar eleitores que não quiseram votar neles na primeira vez. Naturalmente, sem fazer nada que afaste os que votaram. Simples de dizer, complicado de fazer.
Se o dever de casa de ambos fosse conquistar a adesão de eleitores indecisos de primeira viagem, pode-se imaginar que bastaria repetir a estratégia do primeiro turno. Mas não se trata disso. A missão é atrair o pessoal que preferia Marina Silva na Presidência da República. Se ela estivesse disposta a aderir a um dos dois, a eleição estaria praticamente resolvida.
Com uma grossa fatia dos votos dela, Dilma ou Serra estariam com a eleição no papo.
Mas a terceira colocada não parece disposta a fazer isso: ela quer mais e não menos eleitores no futuro.
Naturalmente, ela não fez o erro crasso de recomendar abstenção, e os votos dados que teve irão para Serra ou Dilma - e ninguém sabe que tamanho terá a fatia que cada um receberá. Nem se tem ideia do índice de abstenção espontânea.
Possivelmente, alguma coisa maior do que o do primeiro turno.
Marina à parte, há duas outras novidades no segundo turno. Pelo debate de domingo, ambos os candidatos estão dispostos a elevar o tom e baixar o nível de suas campanhas. É uma estratégia com igual número de vantagens e riscos. Tenho leve desconfiança de que a estratégia mais entusiasma o eleitor já conquistado do que atrai aquele que não quis votar em Dilma ou Serra na primeira vez.
A outra diferença está em que desta vez não há eleições estaduais. É claro que os novos governadores, senadores e deputados estarão presentes na campanha.
Mas é meio complicado prever até que ponto a ausência do seu interesse direto e pessoal na votação influirá no interesse - ou desinteresse - do eleitor dos cafundós do Brasil pelo segundo turno.
Para usar uma expressão inteiramente original, diríamos que o turno final da festa eleitoral é, anotem minhas palavras, uma caixinha de surpresas.
A única caixinha que deveria existir numa campanha eleitoral, mas isso já é outra conversa.

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