Violência escondida
LUIZ GARCIA
O GLOBO - 20/08/10
Imagens violentas nunca são agradáveis.
Melhor não vê-las, exceto numa hipótese: quando isso significa ignorar a existência da própria violência. Quem a pratica não quer outra coisa.
Por isso, é trágico o erro da decisão de um tribunal da Venezuela, que acaba de proibir imagens de conteúdo violento nos jornais do país. O pretexto é poupar a opinião pública, e especialmente os menores de idade de cenas chocantes. Não é a primeira vez na História que ocupantes do poder buscam essa saída para manter a ilusão de que tudo vai bem em seus países — e, portanto, não há qualquer motivo para que sejam substituídos.
A Venezuela terá eleições legislativas em setembro. No momento, dois jornais que publicaram fotos de corpos empilhados num necrotério estão sendo processados pelo governo. Toda a imprensa está proibida de publicar notícias “contendo armas, sangue e mensagens de terror”. A proibição é por um mês, quase exatamente o tempo que falta para as eleições. Não é coincidência, com certeza.
Trata-se da primeira vez, em seus 11 anos no poder, que o presidente Hugo Chávez coloca mordaça em jornais. Até agora, fizera isso apenas com emissoras de televisão. A escalada na censura é sintoma de fraqueza, comum em regimes de força. Não existe na Venezuela uma ditadura do gênero comum na história da América Latina, uma vez que funcionam partidos e o Legislativo.
O regime pode ser definido apenas como autoritário, baseado no populismo — e sua sobrevivência está intimamente associada às reservas de petróleo.
Mas o autoritarismo tem um vício histórico e universal: a distância entre governo e opinião pública é fator inevitável de ineficiência. No caso da violência, os números têm terrível eloquência: no ano passado, foram assassinadas no país mais de 16 mil pessoas — e apenas 9% dos crimes levaram à prisão dos culpados. São números extraoficiais, porque há sete anos o governo não revela as estatísticas da falta de segurança.
Prefere amordaçar a mídia.
Primeiro, foram as redes de televisão; agora, investe contra os jornais.
Na história recente dos regimes de força no mundo há um fenômeno comum: a violência — praticada pelo Estado ou não controlada por ele — aumenta, ou simplesmente torna-se mais visível, à medida que se enfraquecem os mecanismos de controle da opinião pública. É nesse estágio que, pelo visto, está a Venezuela.
Melhor não vê-las, exceto numa hipótese: quando isso significa ignorar a existência da própria violência. Quem a pratica não quer outra coisa.
Por isso, é trágico o erro da decisão de um tribunal da Venezuela, que acaba de proibir imagens de conteúdo violento nos jornais do país. O pretexto é poupar a opinião pública, e especialmente os menores de idade de cenas chocantes. Não é a primeira vez na História que ocupantes do poder buscam essa saída para manter a ilusão de que tudo vai bem em seus países — e, portanto, não há qualquer motivo para que sejam substituídos.
A Venezuela terá eleições legislativas em setembro. No momento, dois jornais que publicaram fotos de corpos empilhados num necrotério estão sendo processados pelo governo. Toda a imprensa está proibida de publicar notícias “contendo armas, sangue e mensagens de terror”. A proibição é por um mês, quase exatamente o tempo que falta para as eleições. Não é coincidência, com certeza.
Trata-se da primeira vez, em seus 11 anos no poder, que o presidente Hugo Chávez coloca mordaça em jornais. Até agora, fizera isso apenas com emissoras de televisão. A escalada na censura é sintoma de fraqueza, comum em regimes de força. Não existe na Venezuela uma ditadura do gênero comum na história da América Latina, uma vez que funcionam partidos e o Legislativo.
O regime pode ser definido apenas como autoritário, baseado no populismo — e sua sobrevivência está intimamente associada às reservas de petróleo.
Mas o autoritarismo tem um vício histórico e universal: a distância entre governo e opinião pública é fator inevitável de ineficiência. No caso da violência, os números têm terrível eloquência: no ano passado, foram assassinadas no país mais de 16 mil pessoas — e apenas 9% dos crimes levaram à prisão dos culpados. São números extraoficiais, porque há sete anos o governo não revela as estatísticas da falta de segurança.
Prefere amordaçar a mídia.
Primeiro, foram as redes de televisão; agora, investe contra os jornais.
Na história recente dos regimes de força no mundo há um fenômeno comum: a violência — praticada pelo Estado ou não controlada por ele — aumenta, ou simplesmente torna-se mais visível, à medida que se enfraquecem os mecanismos de controle da opinião pública. É nesse estágio que, pelo visto, está a Venezuela.
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