O apoio dos tucanos a Dilma virou fraude
ELIO GASPARI
FOLHA DE SÃO PAULO - 08/08/10
Ou a turma do "Movimento Pluripartidário" mostra a lista dos 25 prefeitos, ou a candidata entrou numa fria
NO DIA 1º DE JULHO a candidata petista à Presidência da República participou, em Campinas, da criação do "Movimento Pluripartidário Pró-Dilma Rousseff", patrocinado pelo prefeito da cidade, Hélio de Oliveira Santos, o "Doutor Hélio". O encontro deu-se no Hotel Royal Palm Plaza, com direito a tablado, discursos e faixas que anunciavam o propósito da reunião.
O secretário de comunicação do município, Francisco de Lagos, saudou a plateia e anunciou que nela estavam 117 prefeitos, 25 dos quais do PSDB, 9 do DEM, 8 do PV e 8 do PPS, partidos comprometidos com José Serra e Marina Silva.
Gustavo Reis, de Jaguariúna (PPS), discursou. Lagos não disse os nomes dos demais, nem os organizadores da festa divulgaram uma lista que os identificasse. Ele explicou o motivo: "Não vou botar pato na boca de jacaré".
Com a propagação da notícia, os quatro partidos anunciaram que tomariam providências contra os trânsfugas, e o PV suspendeu a filiação do prefeito de Itapira, Antonio Belini.
Na semana passada o presidente do PSDB paulista, Mendes Thame, contestou as adesões à candidatura de Dilma, classificando-a de "falsidade", produto de "sonhos petistas".
O sonho pode ser petista, mas a falsidade, se houve, foi produzida pelo anfitrião do evento, o prefeito Hélio de Oliveira Santos, e deu resultado. Nos dias seguintes a informação foi publicada em diversos jornais e repetida pelo signatário. Procurado para esclarecer a questão, Doutor Hélio se fez de morto.
Uma semana depois do encontro, o repórter Mauricio Simionato conseguiu uma lista relacionada com o "Evento: 01 de julho de 2010 - com Dilma Rousseff". Nele estão arrolados 116 prefeitos paulistas, de todos os partidos. Não se pode dizer se essa foi uma lista de convidados ou de pessoas presentes, nem se pode garantir que, tendo comparecido, o prefeito aderiu ao "Movimento Pluripartidário". Uma coisa é certa: quem lá estava sabia o que acontecia. Uma das pessoas que assistiram ao ato acredita ter visto uma lista de presença, onde cada um escrevia seu nome.
Simionato procurou os 25 prefeitos tucanos mencionados na planilha. Um desmentiu que lá estivesse, dois disseram que lá estiveram porque foram ludibriados. Quinze simplesmente negaram que tenham comparecido. Os demais não foram alcançados. Essa informação foi colocada no portal Folha.com no dia 9 de julho.
Lagos sustenta que, "como cerimonialista" do ato, enumerou todos os 117 prefeitos presentes, o que contradiz sua piada, bem como a lembrança de Simionato, da repórter Leila Suwwan e de um parlamentar que lá estavam. O secretário recusa-se a divulgar os nomes dos presentes ou a apreciar os prefeitos listados na planilha obtida por Simionato. Faz isso, segundo suas palavras, para "preservar"" os novos aliados, que poderiam sofrer retaliações políticas.
Do jeito que estão as coisas, enquanto o prefeito de Campinas, organizador da cerimônia, não divulgar pelo menos a lista de presenças, "patos" terão sido as pessoas que acreditaram nele e caíram na sua "boca de jacaré", inclusive Dilma Rousseff, que teria enfeitado uma fraude.
Ato público para festejar adesões que, um mês depois, estão no cofre, é embuste. Em ato público recebem-se apoios públicos, como os dos prefeitos Belini e Gustavo Reis.
Para que se possa avaliar o significado das presenças, ou das "falsidades", aqui vão os nomes dos municípios cujos prefeitos tucanos estão listados na planilha conseguida por Simionato:
Avaré, Botucatu, Buritizal, Guará, Guariba, Itápolis, Louveira, Pedregulho, Pitangueiras, Sabino, Sagres, Salesópolis, Sales Oliveira, Salmourão, Sandovalina, Santa Cruz da Conceição, Santa Cruz das Palmeiras, Santa Cruz do Rio Pardo, Santa Fé do Sul, Santa Isabel, Santa Lúcia, Santa Mercedes, Santa Rita do Oeste, São José da Bela Vista e Viradouro.
VENENO NA SAÚDE
O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, tem uma encrenca batendo à sua porta. Desde abril o Departamento de Justiça dos Estados Unidos está atrás de propinodutos abastecidos por quatro laboratórios que operam em pelo menos oito países, entre os quais o Brasil.
Os laboratórios (AstraZeneca, Baxter, Eli Lilly e Bristol-Myers Squibb) foram informados de que estão sendo investigados e dois deles já contrataram advogados.
Não se pode dizer que todas as filiais brasileiras entrem na investigação, mas quem viu o tamanho do problema garante que o Brasil disputa a liderança do receituário de jabaculês.
O fio da meada foi mostrado pela brigada de repórteres caçadores de larápios "Main Justice". Ela acompanha as atividades do Departamento de Justiça dos EUA.
EREMILDO, O IDIOTA
Eremildo é um idiota e acredita em tudo o que os educatecas do Inep dizem.
O cretino acreditou que o MEC ofereceria aos estudantes duas oportunidades anuais para prestar o exame do Enem, diluindo a tensão imposta aos adolescentes pelo suplício do vestibular. Em 2009 realizou-se apenas uma prova. Em 2010, a prova será só uma.
Por idiota, acreditou no esquema de segurança do exame, na fidelidade das listas de aprovados e na proteção dos dados de 12 milhões de estudantes, arquivados no Inep.
Feliz, ouviu a última explicação do presidente do Inep, Joaquim Soares Neto. Segundo ele, o vazamento das informações pessoais da garotada "não afeta de forma alguma a credibilidade do Inep".
Com essa declaração, Eremildo sentiu-se melhor. Ele temia que sua credibilidade como idiota tivesse sido afetada.
MANUAL MADAME NATASHA PARA DEBATES
Madame Natasha assistiu ao primeiro debate dos candidatos e decidiu rascunhar um manual antiblá-blá-blá. Ele pode ser útil tanto para os doutores e doutoras como para suas vítimas.
Toda vez que o candidato diz que um problema deve ser enfrentado por meio de um "programa amplo" ou "solução integrada", está informando que não tem nada a dizer a respeito do tema específico. (Até a fome matutina precisa de uma "solução integrada": café, leite, pão e manteiga.)
"Implementar" é uma rota pernóstica para quem quer fugir do verbo "fazer". Se uma pessoa diz que vai "implementar" o almoço, sempre fica uma dúvida: quem vai fazê-lo?
A palavra "prevenção" muitas vezes mascara a falta de proposta específica. Se o problema for prevenido, ele não existirá, tornando-se desnecessária a implementação de uma solução integrada.
Natasha sentiu-se obrigada a conceder a Dilma Rousseff uma bolsa integrada de português e matemática. A certa altura a candidata disse que o tucanato vendeu R$ 100 bilhões do patrimônio da Viúva e a dívida "saiu de 30 e não foi para 20, mas subiu para 70". Ela queria dizer o seguinte: "a dívida saiu de 30% do PIB e não foi para 20%, mas para 70%".
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