Moratória, já
ANDRÉ LAZARONI
O GLOBO - 02/08/10
Um levantamento da Ademi/RJ verificou que apenas no período de janeiro de 2007 a janeiro de 2009 foram construídos 43 empreendimentos residenciais na Barra, com 5.875 apartamentos.
Isto significa mais 18 mil moradores, considerandose três pessoas por apartamento.
Se cada família tiver um carro, só isto já representa um acréscimo de mais de 6 mil carros.
Pesquisa feita pela CET-Rio em 2007 constatou que em alguns trechos da Avenida das Américas já passavam 145 mil veículos por dia. Este volume superava a Avenida Presidente Vargas, principal artéria do Centro da cidade, pela qual trafegavam 118 mil veículos/dia.
Daí para cá, é evidente que só piorou.
O crescimento — mais que isso, o inchaço — da Barra não se fez acompanhar de igual expansão do transporte de massa. As vias alternativas — como a Via 2, no Canal de Marapendi; a Via Parque; e a Via 4, ligando o Downtown ao Barra Shopping — não saíram das pranchetas. A concepção do Plano Lúcio Costa não foi obedecida: ele estabelecera, por exemplo, que a Avenida das Américas não teria cruzamentos; os retornos seriam feitos por pistas que passariam sob a via expressa. Hoje, passados mais de 24 anos das primeiras vezes que fui à Barra, tenho algumas certezas. A primeira, que não foi isso o que Lúcio Costa projetou e imaginou para a Barra, Recreio e adjacências.
A segunda, que as autoridades precisam investir, com urgência, em transporte público eficiente para a região. A terceira, que as vias paralelas à Avenida das Américas e à orla precisam sair logo do papel e virar realidade, e os acessos ao bairro precisam ser ampliados e modernizados. A quarta — fruto de constatações que faço percorrendo a Barra —, que já não existe mais horário sem trânsito pesado: as retenções são crônicas, não mais apenas nos horários de pico. A quinta, que, a continuarmos neste ritmo vertiginoso de crescimento das construções, dos prédios de escritórios e do volume de carros em circulação, dentro de uns cinco anos o percurso BarraCentro levará no mínimo duas horas, quando o tráfego estiver “normal”. Aí então estaremos perto de virar uma dessas metrópoles inviáveis como São Paulo da hora do rush e dos dias chuvosos, com engarrafamentos que chegam a quase 300km de extensão. O risco que a Barra corre é este: ficar estrangulada, caótica e sujeita, a qualquer momento, a um colapso. Metrópoles como Paris, Nova York e Londres já chegaram perto disso, mas seus gestores tiveram a coragem de intervir, de dar um grito de basta, e de deter o processo de degradação urbana. Hoje são cidades aprazíveis.
Proponho à Prefeitura do Rio de Janeiro a adoção de uma intervenção enérgica desse gênero, uma espécie de basta, tão corajosa e resoluta quanto Paris, Nova York e Londres fizeram.
Sugiro a imposição de uma moratória de construções na Barra da Tijuca, Recreio e Vargens. Não se poderá mais construir nada — nem condomínios residenciais nem complexos de salas comerciais e escritórios — até que se defina de vez o Plano Viário da Barra, que abrange principalmente a Linha Quatro do metrô ou a linha alternativa em estudos como a Madureira-Alvorada, o Veículo Leve sobre Trilhos (no canteiro central da Avenida das Américas) e o Túnel da Grota Funda, até que sejam abertas as vias alternativas à Américas e à orla; e até que se conclua um processo de reordenação urbana, com ampla participação da sociedade.
ANDRÉ LAZARONI é deputado estadual (PMDB)
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