Em primeira mão: o "sentido da vida..."
ARNALDO JABOR
O GLOBO - 20/07/10
As notícias, aqui e no mundo, estão repugnantes: mulheres apedrejadas, atiradas aos cães, a lama habitual da política...
Daí, pensei em me jogar num buraco negro - sem duplo sentido, por favor - e sumir nas galáxias. Sou um idiota em cosmologia (e nem só nisso, amigos, ai de mim...), mas extasio-me com o Hubble e li na "Folha" o artigo do Marcelo Gleiser sobre a energia e a matéria escuras que estariam distribuídas por todo o universo.
A matéria escura compõe cerca de 23% da densidade de energia do universo. O restante seria constituído de energia escura, 73%, e da matéria bariônica (a que nós vemos normalmente no céu e na Terra), 4%. Essas forças escuras seriam formadas pelos neutrinos estáveis e as WIMPs - partículas massivas.
Então, deprimido com a realidade, resolvi filosofar do alto de minha ignorância (já ouço a gargalhada sardônica de homens como Mario Novello ou Luiz Alberto de Oliveira...). Repito coisas que disse num artigo dez anos atrás (deve ter sido a faísca de minha ferradura), refletindo sobre a repercussão dessas forças ocultas em nossa vida aqui embaixo.
Diz o Gleiser: "o vácuo não é vazio..."; "o nada determina talvez o comportamento do universo...".
E foi aí que tive a iluminação! Por segundos, abriu-se a "máquina do mundo" e entendi o universo, como a personagem de Borges diante do "Aleph"!. Assim, amigos leitores, aqui vai, em primeira mão, "tam tam tam!": o sentido da vida!
Vamos lá: se existe a matéria/energia escuras com massa, os tijolos que preenchem o universo, desfaz-se a antiquíssima noção de "sim" e de "não". Melhor dizendo, se o invisível tem massa, se os espaços siderais estão ocupados, é sinal de que não há o "nada". Nada não há.
A ideia de "nada" e de "tudo" seria uma ideia de viventes. Como você vai morrer, o seu cérebro se programa para imaginar que "há" uma coisa e "não há" outra. De que há o "cheio" e o "vazio", de que há o vivo e o morto. Ideia de viventes. Descartes, quando falou "Penso, logo existo", estava dizendo: "Penso, logo penso que existo". Descartes estava apenas inventando o "sujeito", ou melhor, inventando o francês, aquele sujeito cheio de dúvidas, com uma "baguette" debaixo do braço.
Muito bem, meus raros leitores, se a "matéria/energia escuras" está em "tudo" (oh, palavra vã...), há um espantoso "continuum" que nos liga a todos, os seres "em si" e os seres "para si" - coisas e homens. (Oh, Sartre... como esta divisão é insuficiente... Somos todos "em si", velho mestre; o fato de desejarmos, de escrevermos este artigo, não nos confere liberdade alguma).
O leitor dirá: como esse leigo ousa filosofar? Respondo, com o lábio trêmulo de ousadia: "se o PT e o PMDB se uniram para fundar a República ‘corrupto-sindicalista’, por que não posso ser um cientista amador e metafísico?".
Os neutrinos, os WIMPs o provam: tudo está preenchido. Assim sendo, o universo não está se expandindo na direção de um outro lugar, pois não há "outro lugar". O universo está se expandindo em relação a si mesmo, para um dia chegar a si mesmo, se bem que não ao ponto de partida, pois não houve partida. O tal Big Bang faria parte do Big Crunch, o colapso do universo sobre si mesmo, recomeçando eternamente. O universo seria aquilo que existe entre o Big Bang e o Big Crunch.
Estamos todos mergulhados num caldo de cultura infinito, onde parece que boiamos; apenas "parece", pois somos também o caldo onde boiamos. A mosca e a sopa são a mesma coisa.
Falamos muito no "fim do sujeito", mas também, de certa forma, não há "objeto" porque só pode haver sujeito e objeto se houver intervalo, vazios, diferença. Não há.
Mas, continuando este brilhante raciocínio, a ciência já deve estar desistindo de chegar a um fim, a uma espécie de "revelação", como se, seguindo a "estrada de tijolo amarelo", chegássemos a Deus, ou, pelo menos, ao mágico de Oz.
E não só não encontraremos ninguém, nem nada, porque o "nada" não há, nem "ninguém" não há, como também nada se definirá, nem energia nem matéria, pois ambas são parte da mesma "substância", uma se bombeando para dentro da outra, numa trepada eterna de desmanches e recomposições, ali nas quebradas dos buracos negros. Assim, a física moderna tira-nos a esperança de encontrarmos uma resposta, o que não é uma coisa ruim, pode ser até o início de uma nova arte de ser.
Chega de ficarmos extáticos diante do "sublime" - fazemos parte dele. Há uma correspondência "ôntica" entre as estrelas e nosso sistema de vida e morte, de "sim" e "não".
Se não vamos chegar a nada, podemos descansar, pois nosso labor diminui; não temos de descobrir resposta para nada, não porque Deus não exista, porque, obviamente, Deus existe, sim; ou melhor, Deus existe não como coisa a ser "atingida". Deus é a substância, e nós, humanos, somos atributos dela. Substância é aquilo que eterna e imutavelmente é. Logo, Deus (substância) é a única coisa que existe. Necessariamente, as outras coisas só existem em Deus mesmo, como parte d´Ele e, Nele existimos, se é que essa palavra se aplica a algo, como descobriu para sempre o Einstein da filosofia que foi Baruch Spinoza...
Nada "ex-iste", no sentido de estar "fora" de algo: "ex-sistere" (estar em pé, do lado de fora) - fora de quê, saiu "de dentro" de onde?
Por isso, em verdade, em verdade, vos digo, oh, irmãos, que Deus existe, mas não é pai. É tão órfão quanto nós, um Deus-matéria, órfão de si mesmo. A única coisa que nos resta não é o desespero, essa carência de viventes em crise; o que nos resta é a paz da ausência de esperança. A razão humana devia se redesenhar, não em um Big Bang indo em direção a um futuro. A razão tinha de ser um Big Crunch, mordendo o próprio rabo, voltada para dentro, para nós, os homens, para nosso prazer e saúde. A ciência como arte. Esse é o sentido da vida, não há mais desculpa. Somos todos iguais; sejamos felizes! Big Crunch não é nome de sanduíche do McDonald’s - é o destino do universo.
Daí, pensei em me jogar num buraco negro - sem duplo sentido, por favor - e sumir nas galáxias. Sou um idiota em cosmologia (e nem só nisso, amigos, ai de mim...), mas extasio-me com o Hubble e li na "Folha" o artigo do Marcelo Gleiser sobre a energia e a matéria escuras que estariam distribuídas por todo o universo.
A matéria escura compõe cerca de 23% da densidade de energia do universo. O restante seria constituído de energia escura, 73%, e da matéria bariônica (a que nós vemos normalmente no céu e na Terra), 4%. Essas forças escuras seriam formadas pelos neutrinos estáveis e as WIMPs - partículas massivas.
Então, deprimido com a realidade, resolvi filosofar do alto de minha ignorância (já ouço a gargalhada sardônica de homens como Mario Novello ou Luiz Alberto de Oliveira...). Repito coisas que disse num artigo dez anos atrás (deve ter sido a faísca de minha ferradura), refletindo sobre a repercussão dessas forças ocultas em nossa vida aqui embaixo.
Diz o Gleiser: "o vácuo não é vazio..."; "o nada determina talvez o comportamento do universo...".
E foi aí que tive a iluminação! Por segundos, abriu-se a "máquina do mundo" e entendi o universo, como a personagem de Borges diante do "Aleph"!. Assim, amigos leitores, aqui vai, em primeira mão, "tam tam tam!": o sentido da vida!
Vamos lá: se existe a matéria/energia escuras com massa, os tijolos que preenchem o universo, desfaz-se a antiquíssima noção de "sim" e de "não". Melhor dizendo, se o invisível tem massa, se os espaços siderais estão ocupados, é sinal de que não há o "nada". Nada não há.
A ideia de "nada" e de "tudo" seria uma ideia de viventes. Como você vai morrer, o seu cérebro se programa para imaginar que "há" uma coisa e "não há" outra. De que há o "cheio" e o "vazio", de que há o vivo e o morto. Ideia de viventes. Descartes, quando falou "Penso, logo existo", estava dizendo: "Penso, logo penso que existo". Descartes estava apenas inventando o "sujeito", ou melhor, inventando o francês, aquele sujeito cheio de dúvidas, com uma "baguette" debaixo do braço.
Muito bem, meus raros leitores, se a "matéria/energia escuras" está em "tudo" (oh, palavra vã...), há um espantoso "continuum" que nos liga a todos, os seres "em si" e os seres "para si" - coisas e homens. (Oh, Sartre... como esta divisão é insuficiente... Somos todos "em si", velho mestre; o fato de desejarmos, de escrevermos este artigo, não nos confere liberdade alguma).
O leitor dirá: como esse leigo ousa filosofar? Respondo, com o lábio trêmulo de ousadia: "se o PT e o PMDB se uniram para fundar a República ‘corrupto-sindicalista’, por que não posso ser um cientista amador e metafísico?".
Os neutrinos, os WIMPs o provam: tudo está preenchido. Assim sendo, o universo não está se expandindo na direção de um outro lugar, pois não há "outro lugar". O universo está se expandindo em relação a si mesmo, para um dia chegar a si mesmo, se bem que não ao ponto de partida, pois não houve partida. O tal Big Bang faria parte do Big Crunch, o colapso do universo sobre si mesmo, recomeçando eternamente. O universo seria aquilo que existe entre o Big Bang e o Big Crunch.
Estamos todos mergulhados num caldo de cultura infinito, onde parece que boiamos; apenas "parece", pois somos também o caldo onde boiamos. A mosca e a sopa são a mesma coisa.
Falamos muito no "fim do sujeito", mas também, de certa forma, não há "objeto" porque só pode haver sujeito e objeto se houver intervalo, vazios, diferença. Não há.
Mas, continuando este brilhante raciocínio, a ciência já deve estar desistindo de chegar a um fim, a uma espécie de "revelação", como se, seguindo a "estrada de tijolo amarelo", chegássemos a Deus, ou, pelo menos, ao mágico de Oz.
E não só não encontraremos ninguém, nem nada, porque o "nada" não há, nem "ninguém" não há, como também nada se definirá, nem energia nem matéria, pois ambas são parte da mesma "substância", uma se bombeando para dentro da outra, numa trepada eterna de desmanches e recomposições, ali nas quebradas dos buracos negros. Assim, a física moderna tira-nos a esperança de encontrarmos uma resposta, o que não é uma coisa ruim, pode ser até o início de uma nova arte de ser.
Chega de ficarmos extáticos diante do "sublime" - fazemos parte dele. Há uma correspondência "ôntica" entre as estrelas e nosso sistema de vida e morte, de "sim" e "não".
Se não vamos chegar a nada, podemos descansar, pois nosso labor diminui; não temos de descobrir resposta para nada, não porque Deus não exista, porque, obviamente, Deus existe, sim; ou melhor, Deus existe não como coisa a ser "atingida". Deus é a substância, e nós, humanos, somos atributos dela. Substância é aquilo que eterna e imutavelmente é. Logo, Deus (substância) é a única coisa que existe. Necessariamente, as outras coisas só existem em Deus mesmo, como parte d´Ele e, Nele existimos, se é que essa palavra se aplica a algo, como descobriu para sempre o Einstein da filosofia que foi Baruch Spinoza...
Nada "ex-iste", no sentido de estar "fora" de algo: "ex-sistere" (estar em pé, do lado de fora) - fora de quê, saiu "de dentro" de onde?
Por isso, em verdade, em verdade, vos digo, oh, irmãos, que Deus existe, mas não é pai. É tão órfão quanto nós, um Deus-matéria, órfão de si mesmo. A única coisa que nos resta não é o desespero, essa carência de viventes em crise; o que nos resta é a paz da ausência de esperança. A razão humana devia se redesenhar, não em um Big Bang indo em direção a um futuro. A razão tinha de ser um Big Crunch, mordendo o próprio rabo, voltada para dentro, para nós, os homens, para nosso prazer e saúde. A ciência como arte. Esse é o sentido da vida, não há mais desculpa. Somos todos iguais; sejamos felizes! Big Crunch não é nome de sanduíche do McDonald’s - é o destino do universo.
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