REVISTA ÉPOCA
RUTH DE AQUINO
Por que o Adail vai votar na Dilma
RUTH DE AQUINO
No táxi, em belo horizonte. o motorista é José Adail, baiano de origem, há 41 anos em Minas Gerais. O senhor vai votar em quem? “Se o Aécio fosse candidato, ia votar nele. Mas, como não é, vou na mulher mesmo.” O senhor quer dizer na Dilma... “É, na mulher que vai continuar tudo, porque do Lula não tenho nada a reclamar.” E se o Aécio fosse vice do Serra? “Aí, eu ia mudar pro Serra.” Mas o vice não governa. “Eu sei, mas eu confio é no Aécio junto ali. O Serra é muito esquisito, não ri e só quer saber de São Paulo.”
José Adail é um dos 10 milhões de eleitores de Aécio Neves em Minas Gerais. Ele não quer saber se Aécio é do PSDB ou se Lula é do PT. Ele gosta dos dois. “Seu” Adail não gosta é da Dilma ou do Serra. Ele não sabe o que é reforma política ou reforma tributária, muito menos choque de gestão. “O Lula peita mesmo e o Aécio também”, diz.
O taxista não imagina que, no Brasil, há 78 partidos políticos registrados no TSE. Por isso, as siglas não significam nada para ele nem para a imensa maioria dos brasileiros, que não fazem parte da elite sindical. Muitos nem sindicalizados são. Milhões vivem da informalidade e do Bolsa Família.
Adail sabe o que significa Ficha Limpa. Não entende a polêmica dos tempos verbais no texto. Para ele, é simples: se o político tem ficha suja, não pode se candidatar. Como qualquer cidadão que busca emprego. Ele lembra quando Aécio, presidente da Câmara, acabou com a imunidade parlamentar. Antes, para processar um candidato, era preciso pedir autorização ao Supremo.
“E a imprensa fuçou, fuçou, mas não descobriu nada errado do Aécio”, diz Adail. “Aécio é namorador, mas isso ajuda o povo a gostar dele, pelo menos não engana como os outros. Se aparecerem umas dez mulheres quando ele for presidente, ninguém pode dizer que não sabia que ele gosta de namorar.”
O taxista acha que Aécio está “num jogo sem saída”. Como não aceita ser vice, caso Serra perca a eleição para Dilma, “vão culpar nosso governador”. Adail mantém as esperanças. “O povo ainda acha que ele vai ser vice.” Para ele, o neto de Tancredo “junta tudo, experiência e simpatia”.
Aécio gosta de futebol, Carnaval, continua o taxista em sua propaganda ao volante. “Ele se dá bem com todo mundo. Não é como o Itamar (Franco), que brigou, brigou e não fez nada.” Adail é o cientista político das ruas e das quebradas de BH. “Se o Aécio entrar, a ‘mulher’ pode se despedir. Porque o mineiro vota é nele.”
A popularidade de Aécio em Minas se assemelha bastante aos índices de Lula no Brasil. Segundo pesquisa do Datafolha, em dezembro de 2009 Aécio era o governador mais bem avaliado do país, com nota 7,7 dada pelo povo. Em segundo vinha Cid Gomes, com 6,6. Em terceiro, José Serra, com 6,5. Em pesquisa em Minas, o instituto Vox Populi registrou em janeiro 76% de popularidade para Aécio e 73% para Lula. Agora, em maio, a popularidade de Aécio caiu para 72%, provavelmente por ter se afastado.
O brasileiro, ou o latino-americano em geral, é muito personalista ao dar seu voto. Claro que precisa se identificar com o programa de governo. Mas Fernando Henrique Cardoso já afirmou que, na campanha, o que define é “o jeitão do candidato, mais que o discurso”. Para o povão, três fatores são decisivos: a empatia com o candidato, a sensação individual de bem-estar e o que aquele político vai fazer por seu Estado no momento em que ocupar o Palácio do Planalto. É uma mistura de emoção e pragmatismo, de confiança e razão.
Seu Adail e milhões de brasileiros acham Aécio mais parecido com Lula do que com Serra. E acham Aécio mais parecido com Lula do que a Dilma. Ao defender uma agenda comum para o país com base na ética e na eficiência, o neto de Tancredo afirma que buscará sempre a grande aliança, porque “adversários não são todos inimigos e correligionários não têm só virtudes” (leia a reportagem).
“Eu brinco dizendo que, no Brasil, para construir pontes não tem ninguém, mas, para dinamitar, precisa pegar senha”, diz Aécio. Um dia PSDB e PT estarão juntos ou é utopia?
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