Parada gay e turismo
Celso Ming
O Estado de S.Paulo - 05/06/10
São Paulo surpreende. São poucas as cidades no mundo que conseguiriam realizar, na mesma semana, dois megaeventos tão diferentes entre si: anteontem, a Marcha para Jesus, da qual participaram 2 milhões de evangélicos; e, amanhã, a Parada do Orgulho Gay, agora sob sigla bem mais ampla (LGBT), para a qual se esperam 3 milhões de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, simpatizantes, políticos e curiosos.
Com bom poder aquisitivo e forte propensão a gastar, os gays são consumidores cobiçados pela indústria do turismo. Cada visitante poderá deixar nos hotéis, restaurantes e bares cerca de R$ 800 por dia neste feriado.
Pelos levantamentos da SPTuris, a cidade realiza cerca de 60 mil eventos por ano, um a cada seis minutos. No ranking da Associação Internacional de Congressos e Convenções (ICCA), São Paulo ocupou a 18.ª posição em 2009, à frente de Roma, Hong Kong e Montreal.
A meta da SPTuris é ter pelo menos um grande evento por semana e expandir as opções para atrair mais turistas e, obviamente, faturamento. Em março deste ano, por exemplo, aconteceu a até então inédito na cidade: a corrida da Fórmula Indy, que trouxe a São Paulo 21 mil turistas. Eles gastaram R$ 80 milhões nos dois ou três dias que por aqui ficaram.
O ano está ótimo para o setor. Até agora foram realizadas 15 atrações de grande dimensão. Pelo menos outras 15 acontecerão até o final do ano. O índice de ocupação hoteleira no primeiro quadrimestre foi quase oito pontos porcentuais mais alto do que no mesmo período de 2009. Fechou em 64,2%. Nos quatro primeiros meses do ano o turismo proporcionou uma arrecadação de Imposto Sobre Serviços (ISS) de aproximadamente R$ 50 milhões, 29,6% a mais do que no mesmo período do ano passado.
Daqui para frente o calendário parece menos favorável. Sexta-feira começa a Copa do Mundo. É há os dois turnos das eleições presidenciais em outubro.
Para o diretor de Turismo da SPTuris, Luiz Sales, é normal que a Copa dê uma freada nos eventos realizados em São Paulo. "São situações já previstas que não devem prejudicar o desempenho do turismo. Se seguirmos o ritmo dos primeiros meses do ano, alcançaremos 70% da capacidade de ocupação dos hotéis."
Com as estatísticas em mão, também é o que pensa o diretor da União Brasileira dos Promotores de Feiras (Ubrafe), Armando Campos Mello. Neste ano deverão se repetir as 120 feiras e exposições realizadas no ano passado. "Todos vão parar na hora dos jogos do Brasil, mas o setor não vai parar por causa da Copa."
No Brasil, esse segmento fatura R$ 3,5 bilhões por ano e, em 2009, realizou 172 feiras. São Paulo ficou com mais de 70% desse bolo. Cerca de 40% dos turistas vêm à cidade a negócios, perfil de visitante que a metrópole não quer perder. "Esse é o turista que todos os centros desse ramo desejam, porque ele gasta três vezes mais do que os outros", explica Sales. A estratégia é tentar convencer essas pessoas a permanecer mais tempo na cidade e aproveitar o tempo livre para ir ao teatro, visitar o Masp, assistir a um concerto na Sala São Paulo, fazer compras, etc. A SPTuris estima que, se cada turista de negócios ficasse mais um dia, a capital paulista lucraria R$ 1,5 bilhão a mais por ano. /COLABOROU ISADORA PERON
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