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A recomendação de um ministro austríaco revela o grau de desencanto dos europeus com as visionárias utopias políticas: "Qualquer um que admita ter visões deveria procurar um médico." "A Europa sofre de uma exaustão ideológica; a política se tornou uma atividade administrativa. A história europeia do século XX não é de uma gradual convergência de pensamento, mas, ao contrário, de uma violenta série de choques entre utopias antagônicas. As democracias liberais, um produto da tradição intelectual europeia, implodiram no período entre as guerras mundiais. E as propostas de uma nova ordem por comunistas, nazistas e fascistas são também inegavelmente parte da herança política continental. Os europeus se reconciliaram com a democracia porque se desiludiram com as utopias", diagnostica o historiador Mark Mazower, em "Continente sombrio: a Europa do século XX" (1998). Com o enfraquecimento das ideologias, resignados ao capitalismo global e às democracias liberais, os europeus se lançaram ao formidável experimento da moeda única, ante o desafio da supremacia política, militar e econômica dos americanos. O Mercado Comum Europeu já fora instrumental à superação da belicosidade entre franceses e alemães. O euro completaria a tarefa, revertendo, na dimensão econômica, a avaliação de Raymond Aron: "A consciência de pertencer à nação permanece infinitamente mais forte do que o senso de pertencer à Europa." O colapso do euro é manifestação de fenômeno mais profundo: a crise fiscal da social-democracia europeia. E a dificuldade de coordenar uma tentativa de solução tem raízes históricas. "A grande diversidade de culturas, tradições e valores dificulta uma atuação rápida e concertada da Europa nos momentos de crise", explica Mazower. Roubini e Mihm, em "A economia da crise" (2010), revelam: "Os países da Zona do Euro se comprometeram a controlar o déficit fiscal e implementar reformas estruturais em busca da convergência de desempenho econômico. Em vez disso, ocorreu o oposto. A Alemanha passou uma década reduzindo o déficit e melhorando sua competitividade. O inverso ocorreu em Portugal, Itália, Espanha e Grécia, onde permaneceu o desequilíbrio fiscal e os salários subiram mais do que a produtividade. A mobilidade de trabalho continua limitada, pois língua e cultura dificultam as migrações. |
segunda-feira, junho 07, 2010
PAULO GUEDES
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