Até onde vão as reservas
Celso Ming
O Estado de S.Paulo - 07/06/2010
Dia 1.º de junho, as reservas externas ultrapassaram os US$ 250 bilhões, 5% acima da posição do final do ano passado, de US$ 239 bilhões.
Pergunta há meses sem resposta: até onde vai essa escalada? Há alguns anos os administradores públicos calculavam que as reservas não precisavam passar dos três meses de importação (o que hoje daria US$ 45 bilhões), volume considerado suficiente para enfrentar eventuais surpresas ruins no comércio exterior. Logo se consolidou a percepção de que os fluxos financeiros podem ser substancialmente mais volumosos do que os comerciais e que é preciso amontoar provisões para enfrentar as enormes transferências de capitais que acontecem nas crises.
Essa não deixa de ser uma postura macroeconômica insustentável a longo prazo porque as reservas só crescem se há superávits no balanço de pagamentos e esses superávits só existem quando outros países enfrentam déficits correspondentes no balanço de pagamentos. Ou seja, desequilíbrios assim não podem se manter por muito tempo.
Independentemente disso, é preciso saber o que mais convém ao Brasil. Ao final de 2008, o País tinha reservas de US$ 207 bilhões e elas foram suficientes para blindar a economia no auge da turbulência global. Foi, em grande parte, por esse volume de reservas que a maior crise desde os anos 30 chegou por aqui como a "marolinha" da qual se gabou o presidente Lula.
Pode-se argumentar que um reforço nesse bolão não tem contraindicações. Mas parece próximo o momento em que é preciso perguntar se excesso de musculatura não atrapalha mais do que ajuda.
O aumento de reservas exige expansão da dívida bruta na medida em que o Banco Central precisa retirar com a venda de títulos públicos os recursos usados para comprar os dólares das reservas. (Não se trata de expansão da dívida líquida porque do outro lado há o ativo em dólares.) Os títulos públicos lançados para esse enxugamento produzem o inconveniente de que custam juros mais altos do que os obtidos com a aplicação dos dólares.
Além disso, reservas mais altas atraem mais dólares, não só porque dão mais segurança para o investidor externo, mas também porque desestimulam a expatriação de recursos. Quando as reservas alcançaram os US$ 100 bilhões, o Brasil chamou a atenção pelo vigor de sua economia e virou o B dos Brics. Quando chegarem aos US$ 300 bilhões, vai ser difícil impedir a invasão de dólares.
Ainda se repete por aqui que são os juros altos no mercado interno que atraem moeda estrangeira que vem para especular com a diferença entre juros externos e internos (arbitragem financeira). No entanto, reservas externas atraem bem mais. Em 2006, quando estavam em US$ 86 bilhões, o Investimento Estrangeiro Direto (IED) não passou dos US$ 22 bilhões. Neste ano, com essa montanha de dólares, vai para US$ 45 bilhões (estimativa do Banco Central).
Enfim, essa política pode estar com os dias contados. Mas parece improvável que mude ainda neste ano de eleições e de fim de governo. Para a atual administração pode ser mais cômodo deixar tudo para o próximo governo e para a nova diretoria do Banco Central.
Confira
Sem resposta
Os ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais do Grupo dos 20 (G-20) se reuniram nos dois últimos dias na Coreia do Sul, mas, também desta vez, não trouxeram respostas satisfatórias para as questões levantadas pela atual crise que se localiza na Europa.
Como vai atuar o bombeiro?
Há, sim, um fundo de US$ 900 bilhões, criado em maio pelos países-membros da União Europeia e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), mas ninguém até agora foi capaz de explicar duas coisas: de onde vêm os recursos; e como/quando esse fundo vai ser operado.
Estão perdidos?
Isso significa que as principais autoridades da área financeira do mundo não estão sendo capazes de apagar os novos focos de incêndio, dentro e fora da área do euro, que se alastram pelos mercados. Dizer que é preciso mais disciplina fiscal é pouco e redundante. O problema da hora é o que fazer nos casos concretos de desequilíbrio fiscal.
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