Entre Toronto e o Nordeste
CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SÃO PAULO - 27/06/10
SÃO PAULO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez muito bem em trocar Toronto, no Canadá, sede da cúpula do G20 neste fim de semana, pelo inundado Nordeste brasileiro. Fez bem por dois motivos: primeiro, porque é sempre louvável quando um governante mostra solidariedade com os que sofrem. Sempre.
Segundo, porque a catástrofe nordestina põe em evidência que uma fatia ponderável do Brasil -muito provavelmente majoritária- não cabe no G20+. Cabe, sim, no G20-, aquele clube de miseráveis de vida precária que a TV esfrega na cara dos relativamente poucos que sentir-se-iam à vontade na rutilante Toronto.
O presidente nem precisa ser apresentado a este segundo clube. Conhece-o de sobra. Quando candidato de oposição, apresentou o Nordeste miserável no programa eleitoral gratuito como prova da insensibilidade dos governantes da época, em especial das oligarquias regionais.
Agora, as oligarquias regionais não podem mais ser criticadas. Nem por Lula, aliado delas, nem pela oposição, que é também formada por oligarcas.
Lula poderia aproveitar a oportunidade para ir além da solidariedade e além de promessas pontuais de ajuda ou remendo. As dimensões de tragédias recentes (em Santa Catarina, em São Luiz do Paraitinga, no Rio de Janeiro, agora em Pernambuco e em Alagoas) deveriam provocar no mínimo a curiosidade de saber se está ou não havendo um aumento avassalador não só na quantidade de água que invade as cidades como na capacidade destrutiva delas.
As cenas que a TV Globo mostrou quinta e sexta-feira sugerem a primeira hipótese, mas apenas estudos técnicos sérios poderiam confirmá-la ou desmenti-la. Só assim -e, claro, tomando as providências decorrentes- é que o Brasil poderia começar a sair do G20-.
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