Suave veneno
CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SÃO PAULO - 24/06/10
SÃO PAULO - Até outubro, a popularidade de Luiz Inácio Lula da Silva é uma bênção para Dilma Rousseff. É, a rigor, o seu único ativo eleitoral. Tanto que foi suficiente para torná-la a candidata favorita, a julgar pela pesquisa Ibope divulgada ontem.
Mas, a partir de novembro e, especialmente, a partir de 1º de janeiro, se eleita, a bênção se transformará em cálice envenenado. Dilma terá que competir não contra adversários, mas contra o seu próprio padrinho. Terá que repetir os índices de popularidade de Lula, sob pena de sofrer um nível de desgaste maior do que aconteceria com governantes sem a sua gênese e sem tão imensa sombra.
Se conseguir chegar perto, tudo bem. Ninguém razoável é capaz de supor que Dilma possa repetir os índices de Lula, ainda que faça uma excelente gestão. Lula tem uma empatia com o público que responde por uma parte importante de sua popularidade. Dilma não tem e não terá. Faz parte do DNA dele, mas não aparece no dela.
Se o índice de aprovação começar a ficar bem abaixo do de Lula, já dá até para ouvir o pessoal do PT do Maranhão resmungando algo assim: "Foi para isso que tivemos que engolir o Sarney?". A turma do PT mineiro dirá mais ou menos o mesmo, em relação à aliança (imposta) com o PMDB.
É óbvio que com José Serra ocorrerá algo parecido. Mas com uma diferença essencial: não haverá inversão de bênção para desafio. Como candidato, Serra já concorre contra a popularidade de Lula, ao contrário de Dilma. Como presidente, continuará concorrendo.
No caso de Marina Silva, suponho que será diferente. Sua vitória criará uma situação política tão diferente do que vem sendo usual há 16 anos que o paradigma em tese deixará de ser Lula.
Passará a ser a adoção (ou não) do novo modelo de desenvolvimento que é o cerne de sua pregação.
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