Pressões sobre a China
Celso Ming
O Estado de S.Paulo - 22/06/2010
Ontem, a cotação da moeda chinesa (o yuan ou renminbi) em dólares teve sua maior valorização desde julho de 2005, quando do último ajuste administrado pelo Banco do Povo da China (banco central).
De lá para cá, estava amarrada à moeda americana, a uma cotação praticamente fixa a 6,826 yuans por dólar: se havia mais entrada de dólares que tendesse a puxar as cotações do yuan para cima, o banco central comprava o excedente; se acontecesse o contrário, vendia. Assim, todo o processo de desvalorização do dólar que se seguiu à crise foi transferido também para a moeda chinesa e deixou o produto chinês ainda mais barato.
A alta do yuan ocorrida ontem, de 0,42%, foi precedida de anúncio oficial feito no sábado de que o banco central, dirigido por Zhou Xiaochuan, prepara a flexibilização do câmbio. A novidade foi saudada por autoridades de todo o mundo, especialmente pelo diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, por soar como prenúncio de mudanças importantes na administração da economia da China.
A queixa recorrente do governo dos Estados Unidos é a de que a excessiva desvalorização do yuan cria desequilíbrios. O mais importante deles é o de que deixa o produto da China com enorme poder de competição em todos os mercados. A consequência disso é a de que os Estados Unidos se tornaram grandes importadores de produtos chineses e vêm contabilizando rombos da ordem de US$ 420 bilhões por ano em suas contas externas (Contas Correntes). Além disso, na condição de grande superavitária em suas contas externas, a China vai amontoando reservas (hoje são de quase US$ 2,5 trilhões - veja o Confira), que, por sua vez, são aplicadas em títulos do Tesouro dos Estados Unidos e, nessas condições, financiam o consumo americano, que é o fator que aciona importações... da China.
Há anos, as autoridades dos Estados Unidos vêm pressionando o governo de Pequim para que deixe o yuan flutuar livremente ou promova sua forte valorização como providência indispensável para que esse desequilíbrio se desfaça.
Em todo o caso, domingo as próprias autoridades chinesas advertiram que o resto do mundo não deveria esperar nem por profunda nem por rápida valorização do yuan, até porque, coerentemente com o que sempre afirmaram, o yuan não está tão excessivamente desvalorizado quanto supõem os americanos.
Assim, o anúncio da mexida no câmbio chinês e a pequena valorização que aconteceu ontem podem ser interpretados como abertura de válvula, cujo objetivo é reduzir as pressões políticas sobre Pequim uma semana antes da realização da reunião de cúpula do grupo dos 20 países mais importantes do mundo, o G-20, agendada para o próximo fim de semana em Toronto, Canadá.
A forte valorização do yuan é do interesse dos Estados Unidos, mas não é certo que seja do interesse da China. Provavelmente também aí se aplica o provérbio siciliano: não exija o que você não pode tomar pela força. Neste momento, nenhuma autoridade global tem condições de exigir que a China faça um jogo cambial que não lhe convém.
O tamanho do monte
O gráfico mostra a quantas estão as reservas internacionais da China, consequência da forte expansão das exportações chinesas.
Não haverá quebra
Ontem, o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, avisou que não será permitida quebra (default) na área do euro. Ficou entendido que o BCE e outros países do bloco recomprariam os títulos ameaçados de calote. E a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, rejeitou os argumentos de que o corte de gastos provocaria recessão. "Sem austeridade fiscal não há crescimento sustentado", disse.
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