A Oi diz alô
Antônio Machado |
Correio Braziliense - 22/06/2010 |
Telefónica quer a Vivo, da Portugal Telecom, que quer um naco da Oi, que sonha com a PT As investidas da Telefónica de Espanha sobre a Portugal Telecom (PT), com a qual partilha o controle da operadora de celular Vivo, deverão mexer com os interesses das demais empresas de telefonia no Brasil, se os portugueses cederem ao assédio dos espanhóis. As duas empresas ibéricas apuram no Brasil grande parte de seus resultados — e a tendência é que só venha a crescer a importância do mercado brasileiro para elas diante da crise na Europa do euro, que será longa, e no Leste Europeu, onde ambas também atuam. A Vivo, para a PT, é o filho único bem sucedido, o apoio dos pais na velhice. A família da Telefónica é maior e mais diversificada, estando presente em quase toda a América Latina, além da Europa. Mas é no Brasil, pelo tamanho da economia, que o seu negócio pode crescer, compensando a retração na Europa. Os interesses das duas se entrelaçam no Brasil e em Portugal. Lá, a Telefónica detém 10% do capital da PT, cujo controle é pulverizado de tal modo que ela, individualmente, é o seu maior acionista. No Brasil, ambas dividem a holding que controla a Vivo, mas a PT tem o comando da operação. A divisão atendeu aos interesses das duas até que a grande crise global se abateu sobre a Europa, abalando Espanha e Portugal, que já vinham em dificuldades fiscais e financeiras e foram tragadas pelo redemoinho provocado pela virtual insolvência da Grécia. Entre os sócios da PT, vários são fundos de hedge que investiram na empresa visando lucrar com desdobramentos futuros de seu plano estratégico. Eles foram atraídos para ela durante o conflito com o grupo português Sonae, do empresário Belmiro de Azevedo. No início de 2006 ele tentou assumir a PT com uma oferta hostil. Foi barrado por outros sócios, sobretudo o Banco Espírito Santo. Para os fundos, já passou a hora de sair da PT. Houve uma chance durante a fusão da Brasil Telecom (BrT) à Oi, mas as conversas não evoluíram. Agora, eles estão na linha de frente dos que acarinham a proposta da Telefónica, que também seduz os sócios portugueses — desencantados com as possibilidades econômicas de Portugal. O mesmo euroceticismo move as intenções da Telefónica, mas, para crescer no Brasil, ela precisa reinventar sua atuação no país, já que aqui o seu negócio principal é telefonia fixa, uma tecnologia em desuso, e com área de atuação limitada a São Paulo. A dança dos ibéricos A telefonia celular acoplada ao acesso à internet em banda larga sem fio é o negócio de maior expansão. A Telefónica está amarrada à PT na Vivo, o que a impede de obter ganhos de sinergia fundindo-a com a telefonia fixa. Este é o senso que movimenta os espanhóis. Eles querem comprar os 50% da Vivo que pertencem à PT, que reluta tanto pelo preço — a Telefônica oferece 6,5 bilhões de euros, quase US$ 8 bilhões — como pela perda da vaca leiteira, esse, o impasse maior. Para desempacar, a Telefónica foi ao governo Lula sondar sobre a entrada da PT na Oi, usando para isso o capital que receberia com a venda de sua metade na Vivo. A posição do governo é que se trata de um negócio privado, ainda que o BNDES seja um dos sócios da Oi. Versão sem aprovação O controle da Oi é partilhado entre a Andrade Gutierrez, dirigida pelo empresário Sérgio Andrade, e Iguatemi, de Carlos Jereissati. Os dois se reuniram com o presidente na quinta-feira para expor os investimentos, o estágio da fusão com a BrT e os planos da Oi para crescer no exterior e em satélites. A questão da PT foi falada por alto, segundo um dos presentes. Estavam na reunião o presidente da Oi, Luiz Eduardo Falco, a ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, e Cesar Alvarez, assessor que cuida da agenda de Lula e participa do projeto de banda larga. A versão divulgada é que os empresários recorreram a Lula para blindar a Oi contra a PT. Foi o contrário. Lula quer Oi nacional Os sócios da Oi disseram que aceitam a PT como sócia, mas não com poder de decisão. E também estariam dispostos a comprar um naco da PT, incluindo as ações que a Telefónica deverá vender se conseguir levar a Vivo. Lula, segundo se apurou, gostou da ideia e os pautou a tratar com o presidente do BNDES, Luciano Coutinho. Ratificou-se também que a Oi é empresa estratégica, a grande telco nacional. Multis sem blindagem A crise nos países ricos torna os emergentes, como Brasil, área de caça das multinacionais. Aqui, a Oi é a última barreira contra a desnacionalização das telecomunicações. O setor é dominado pela Telefônica, PT e mais Embratel, Claro e Net, todas de Carlos Slim, o bilionário mexicano; TIM, da Telecom Itália (da qual Telefónica é sócia); a GVT, da francesa Vivendi; e outras empresas menores. Lula apoiou a fusão da BrT à Oi, inclusive mudando a legislação, justificando-a como estratégica para o interesse nacional. Não faz sentido, portanto, encaixar em seu capital uma empresa estrangeira com poder de veto. Se vender a Vivo, a PT virará um pontinho, com menos de 20% do tamanho da Oi. Hoje, ela já é bem menor que a Oi. Fundos de pensão de estatais também são sócios da Oi. O acordo de acionistas, porém, dá preferência aos outros sócios, se quiserem sair. Mais: o governo tem poder de veto sobre os negócios desses fundos. A Oi está blindada. Os estrangeiros é que não estão — e se mostram incomodados com o eventual avanço da Telefónica no Brasil. |
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