domingo, maio 09, 2010

PAINEL DA FOLHA

Estados desunidos
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO - 09/05/10

Ainda que muito se fale nos tropeços das primeiras aparições públicas de Dilma Rousseff como candidata, o que mais preocupa o comando da campanha do PT neste momento é a situação mal parada dos palanques nos Estados. Na semana que passou, o caso mais notável foi o do Rio Grande do Sul, onde uma visita de dois dias de José Serra serviu para esquentar o namoro PSDB-PP -este último com um dote de um minuto e meio de tempo de televisão- e, principalmente, para produzir cenas explícitas de proximidade entre o tucano e o candidato ao governo José Fogaça, cujo PMDB deveria estar, em tese, com Dilma. Pela primeira vez, Fogaça disse que fará o que a seção gaúcha do partido determinar. E esta é pró-Serra.

com LETÍCIA SANDER e GABRIELA GUERREIRO
Balança... Além do Rio Grande do Sul, a estrutura do palanque de Dilma também inspira cuidados no Paraná, onde foi para o brejo uma aliança PT-PDT costurada pessoalmente por Lula, e no Pará, onde resultaram frustradas todas as tentativas feitas pelo Planalto de mediar o conflito entra a governadora petista Ana Júlia e o peemedebista Jader Barbalho.
...balança... Em Santa Catarina, a líder nas pesquisas, Ângela Amin (PP), outrora computada como pró-Dilma, passou a flertar com Serra. Diz que a eventual presença do tucano fortalecerá seu palanque. "Quem vier nos ajudar será nosso parceiro."
...mas não cai. Petistas argumentam, porém, que embora Serra tenha resolvido mais pendências, suas alianças são mais restritas que as de Dilma. Citam como exemplo Pernambuco e Ceará.
Vai sonhando. Ainda que a semana tenha se encerrado com a iminência de um acerto pró-Hélio Costa em Minas, há gente no PT dizendo que, antevendo dificuldade para se eleger, o peemedebista ainda pode desistir e optar pela reeleição ao Senado, abrindo caminho para Fernando Pimentel. O PMDB zomba da ideia.
Custo-benefício. Não obstante a aliança fechada com o PSC, a campanha de Serra quer mantê-lo o mais distante possível do Distrito Federal, onde o único palanque disponível é o do encrencado Joaquim Roriz. Um dirigente tucano resume: "É 1% do eleitorado e 99% de problema".
Quem diria. Do Twitter de Cesar Maia (DEM): "Serra deve ter poder de premonição. O início da campanha da Dilma deu razão a ele em não preanunciar a candidatura". O ex-prefeito do Rio foi crítico ácido da demora do tucano.
Precisava... Com certeza ninguém criticará Lula em público, mas, na campanha de Dilma, houve quem não gostasse de ouvir o presidente da República afirmar, durante evento público na sexta-feira em Pernambuco, que a ex-ministra não cresceu tudo o que pode nas pesquisas porque "eu ainda não subi ao palanque com ela para pedir votos".
...dizer? Mesmo que o diagnóstico seja verdadeiro, ponderam os descontentes, explicitá-lo agora em nada contribui com o esforço para apresentar Dilma como uma candidata que pode andar com as próprias pernas, sem prejuízo do padrinho poderoso.
Contralto. Em recente almoço com a direção da Rede TV!, Fernando Henrique Cardoso fez observações críticas ao desempenho de Dilma nas primeiras entrevistas de campanha, mas com uma ressalva galante: "A voz dela é bonita".
Sei não 1. Ainda que os ministros Paulo Bernardo (Planejamento) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais) tenham vindo a público para garantir que Lula vetará o reajuste de 7,7% para os aposentados se esse percentual for referendado pelo Senado, no entorno do presidente a certeza não é assim tão peremptória.
Sei não 2. Ali se diz apenas que Lula não fará "nenhuma loucura", sem precisar qual seria a alternativa "sã".
Tiroteio 
Qual é o Serra que quer o apoio do PT? O do ajuste fiscal ou o que saiu candidato e de cara prometeu criar mais dois ministérios? 


Do deputado ANDRÉ VARGAS (PR), secretário de Comunicação do PT, em resposta ao candidato tucano, que, durante debate em Belo Horizonte, disse que gostaria de contar com a participação do partido em seu eventual governo.
Contraponto
Cinema novo
Numa das várias ocasiões em que veio a público defender o terceiro mandato, Devanir Ribeiro (PT-SP), amigo de longa data de Lula, foi chamado para se explicar.
-Que confusão você está arranjando, Devanir! Que história é essa de terceiro mandato?- indagou o presidente.
-Lembra do Glauber Rocha?- devolveu o deputado.
-E o que ele tem a ver com a nossa conversa?
-Não era ele quem dizia para trabalhar com "uma ideia na cabeça e uma câmera na mão"?
-E você lá tem câmera, Devanir?
-Bom, presidente, eu tenho a ideia. Câmera quem tem é a Globo, a Record, o SBT...

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