Contra-ataque
LUIS FERNANDO VERISSIMO
O GLOBO - 09/05/10
No outro dia escrevi que a humanidade não tem defesa contra cataclismos naturais como terremotos, tsunamis e erupções de vulcões, mas a verdade é que temos, sim, meios para contra-atacar. Eles só permanecem hipotéticos porque nunca foram testados. Há anos se especula o que aconteceria se toda a população da China pulasse ao mesmo tempo, por exemplo. Nada demais, só um pulinho – mas todos juntos. O possível efeito de um salto coletivo de um bilhão de chineses seria um deslocamento do eixo da Terra, com consequências imprevisíveis.
O Leitor Mais Racional, que é um chato, deve estar se perguntando se deslocar a Terra do seu eixo não causaria desastres naturais ainda mais terríveis. O Leitor Mais Racional não pegou o espírito da coisa. O pulo dos chineses não visaria intimidar a Terra ou simplesmente retaliar os seus ataques. Seria uma demonstração do que a humanidade é capaz, se juntar as suas forças. Um gesto desafiador, para a Terra saber com quem está tratando. Para a Terra saber que não seremos varridos da sua superfície sem uma luta, nem que seja simbólica.
A China seria escolhida para nos vingar porque é o lugar onde tem mais gente no mundo, e porque historicamente sabe arregimentar a sua gente. Como na piada do Millôr sobre a construção de túneis na China: dez mil chineses começam a cavar um túnel num lado da montanha, dez mil chineses começam a cavar do outro lado da montanha. Se eles se encontrarem no meio, fazem um túnel. Se não se encontrarem, fazem dois túneis. Recentemente o governo da China determinou que todo o país seria capitalista e só o governo seria comunista – e deu certo! Perto disso, conseguir que toda a população pule ao mesmo tempo a um sinal de Pequim é barbada.
E se depois do susto a Terra continuasse a nos aterrorizar, não nos entregaríamos. O próximo passo seria as populações da China e da Índia pularem ao mesmo tempo. Mesmo que o globo terrestre, descontrolado com o golpe duplo, saísse da sua órbita e se chocasse contra o Sol, nos levando juntos, seria um fim glorioso e uma vitória moral. Teríamos mostrado que não somos apenas uma praga de piolhos em breve passagem por um dos planetas menores, esperando, sem ação, a creolina.
Somos gente, gente.
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