Estofadinhos
FERNANDO DE BARROS E SILVA
FOLHA DE SÃO PAULO - 20/04/10
SÃO PAULO - Ainda ameaçado por liminares, está previsto para hoje o leilão da usina de Belo Monte. Quando iniciada, será a maior obra em construção no mundo (e a terceira maior hidrelétrica do planeta). No entanto, as duas maiores empreiteiras do país, Odebrecht e Camargo Corrêa, anunciaram há dez dias a sua saída do negócio.
O governo correu para arrumar um consórcio que pudesse "disputar" com aquele liderado pela Andrade Gutierrez e a Vale do Rio Doce. Há boas razões para supor que Odebrecht e Camargo não estavam dispostas a coadjuvar um teatro.
Em entrevista à Folha, Dilma Rousseff explicou a atitude das desistentes de maneira um tanto curiosa: "O pessoal está estofadinho de obras. Antes, tinha só uma obra, eles sofriam. As empresas hoje têm um leque grande de oportunidades". A explicação deve ser falsa, mas a afirmação é verdadeira. A rigor, não só as empreiteiras estão "estofadinhas". O setor privado como um todo nunca faturou tanto.
Eis, no entanto, o mistério: por que esses estofadinhos nadando em dinheiro preferem José Serra?
Ok, é verdade que os empresários são sobretudo pragmáticos e tendem a apoiar os donos do poder, quaisquer que sejam. Mas também é um fato que têm preferências.
O jornal "Valor Econômico" divulgou na semana passada uma enquete com 142 executivos. Resultado: todos afirmaram que suas empresas cresceram de forma significativa sob Lula, mas, apesar disso, 111 disseram preferir Serra, contra apenas 13 que escolhem Dilma. Marina teve 8 votos. Ciro, só 1.
Ou seja: Lula conquistou os empresários pelo bolso, mas o coração deles (que também pulsa no bolso) não bate por Dilma. De onde vem tanta resistência? Reação à retórica de classe (ricos contra pobres) da campanha? Medo de uma tutela maior do Estado sobre o setor privado? Desconfiança de que Dilma e Lula sejam tão diferentes? A verdade é que Serra, apesar da fama de mau, larga com a preferência da turma que Lula deixou estofadinha.
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