Caiu na rede
ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SÃO PAULO - 20/04/10
BRASÍLIA - Como já escreveu Márcio Aith nesta página, seria ingênuo desprezar o peso da internet nesta eleição, mas também há uma dose de exagero em comparar o impacto da internet nos EUA e aqui.
Não custa lembrar que o Brasil não é exatamente os EUA. A internet tem um peso eleitoral crescente, mas está longe de ser prioritária ou decisiva num país em que 97% dos domicílios têm TV aberta e só 18% estão conectados à rede.
Por ora, as campanhas usam a internet para xingar os adversários e, acessoriamente, falar bem do candidato. No fogo cruzado, os estilhaços sobram para a imprensa.
O "Dataeliane" informa que a rede serve basicamente para o jogo sujo, com palavrões, ameaças e imputações às vezes graves dos dois principais lados -os petistas à frente, os tucanos depois-, que tentam confundir o seu pessoal de ataque com "leitor" comum. Há quem acredite.
Eis a "metodologia": as campanhas fazem uma triagem, escolhem uma trilha e jogam a sua interpretação na rede. Em horas, aquilo vai às centenas, depois aos milhares. O fato some, a versão se impõe.
Um exemplo concreto: há alguns anos, mudaram uma vírgula (literalmente) numa coluna minha e o que ficou foi a versão. A frase era: "...senão, Lula, o Aedes Aegipt vem, pica e mata". E virou: "...senão, Lula, o Aedes Aegipt, (olha a vírgula aí) vem, pica e mata". Ou seja: como se eu tivesse chamado o presidente de mosquito da dengue, pronto a dizimar a população brasileira. Foi a vitória da má-fé.
Até o final do ano, haverá ataques em série pela internet ao profissionalismo, à credibilidade, às intenções e à honrabilidade principalmente dos candidatos, mas não só deles. Serra e Dilma, pelo twitter, posarão de bons moços. Fora dali, em blogs e por e-mail, seus cães estarão prontos para morder.
A grande dúvida é: isso dá voto? É mais fácil imaginar que dá raiva e, em vez de dar voto para um (ou uma), tira o respeito de todos.
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