De outras eras geológicas
FOLHA DE SÃO PAULO - 15/03/10RIO DE JANEIRO - Outro dia, dei um teco sem querer numa tecla do computador e, em 0,0001 segundo, perdi tudo de 2009 para cá -ou não dei teco nenhum, a tecla é que disparou por conta própria e lá se foram as mensagens para o limbo cibernético. Convocado com urgência, meu socorrista eletrônico mergulhou nas tripas da engenhoca e passou o dia tentando "recuperar" as mensagens. Debalde. Resultado: para todos que me escreveram por aqueles dias, e eu ainda não tinha respondido, vou passar por esnobe, mal educado e sabe-se o quê mais.
O mesmo quanto às pessoas que ligam para meu telefone fixo e, quando não me encontram, deixam mensagem na secretária eletrônica pedindo que eu ligue de volta. Até aí tudo bem. Só que algumas já não se dão ao trabalho de informar seu nome e telefone, confiantes em que meu aparelho é daqueles que registram o número de quem chamou. Resultado: chego da rua, ouço a mensagem, não reconheço a voz, não sei de onde veio a chamada e só me resta sentar no meio-fio e lamentar meu vergonhoso atraso tecnológico.
Sem falar nas vezes em que sou solicitado a dar o meu twitter, meu facebook, meu orkut ou meu grlknt, e tenho de confessar que não tenho nenhuma dessas conveniências -serve o endereço postal?
Você dirá que não tem nada com isto, eu que me atualize e pare de resmungar. No que estará coberto de razão. Mas, por minha vez, me pergunto quantos ainda não serão, como eu, homens de outras eras geológicas, incapazes de acompanhar a velocidade da internet, da telefonia, da ciência, das comunicações, dos recordes olímpicos e até desse infernal celebritismo que transforma anônimos em "famosos" em um minuto cravado.
Incapazes, aliás, não é bem o termo. Não é difícil acompanhar a velocidade com que as coisas se dão hoje. É só inútil.
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