O setor industrial chega ao fim de 2009, segundo os indicadores divulgados ontem pelo IBGE, assinalando queda de 7,4% ante 2008, a mais expressiva desde os 8,9% de 1990. Esse desempenho reflete os efeitos da crise mundial desencadeada a partir de setembro de 2008 que, no caso da economia brasileira, afetou particularmente a atividade industrial. Os impactos derivados da abrupta escassez de crédito e da imediata retração no comércio internacional se traduziram num inédito e intenso movimento de retração da atividade fabril: em apenas três meses, entre dezembro e setembro de 2008, o setor encolheu 20% e iniciou o ano de 2009 com elevados níveis de estoque, num ambiente marcado pela incerteza quanto à extensão desse processo de queda.
Ao longo de 2009, observou-se uma gradual e contínua recuperação do ritmo de produção fabril que, no entanto, não impediu um resultado muito negativo no índice global da indústria, tendo como setores mais atingidos o de bens de capital (produção de máquinas e equipamentos), cuja redução chegou aos 17,4%, e o de bens intermediários (-8,8%), não por acaso o de maior articulação com o mercado externo.
Por outro lado, setores industriais relativamente mais voltados para o atendimento da demanda interna de consumo, mesmo num quadro de queda, apresentaram resultados menos desfavoráveis: a produção de bens de consumo duráveis (automóveis, eletroeletrônicos, celulares, etc.) fechou o ano com redução de 6,4%, e a de bens de consumo semi e não duráveis (alimentos, bebidas, medicamentos e vestuário) ficou 1,6% abaixo da de 2008.
Na base do desempenho do segmento de bens de consumo estão fatores como a manutenção da massa salarial, a sustentação das boas condições de crédito e as medidas setoriais de estimulo a segmentos de bens duráveis por meio de redução de IPI (veículos, eletrodomésticos da linha branca e materiais de construção). Segundo a pesquisa mensal do comércio do IBGE, o varejo alcançou crescimento de 5,5% no acumulado de janeiro a novembro de 2009, tendo como destaques os segmentos de hiper e supermercados (8,2%) e o de veículos (9,6%). Pelo lado do comércio internacional, as exportações registram queda de 25% e as importações, de 29%.
Os índices para os meses do fim de 2009 apresentam a seguinte característica: uma ligeira desaceleração no desempenho de bens de consumo duráveis, provavelmente refletindo uma certa acomodação da demanda em razão da expectativa pelo fim das medidas de redução de impostos neste setor, que deve ter levado a uma antecipação no consumo desses bens; e um avanço mais rápido de setores ligados aos investimentos (produção de máquinas e equipamentos), movimento que traduz o aumento da confiança das empresas, que, assim, voltam à aquisição de bens para ampliar sua capacidade produtiva.
Entre agosto e dezembro passados, o setor de bens de capital experimentou crescimento de 17,4%, enquanto o segmento de bens de consumo duráveis, o de maior expansão até o início do segundo semestre de 2009, mostra redução de 3,8%. As reduções observadas no total da produção industrial em novembro (0,8%) e dezembro (0,3%) sugerem um momento de acomodação no ritmo industrial e não uma inflexão na trajetória de crescimento.
Isso porque há um conjunto de indicadores que configuram a manutenção de uma trajetória positiva da atividade econômica em 2010: mercado de trabalho, retomada de investimentos, inflação dentro da meta e percepção de empresas e consumidores sobre o cenário econômico no curto prazo. Mantido o nível de produção de dezembro, ou seja, supondo crescimento zero na margem, a indústria chegaria aos 5,5% de expansão em 2010. Na hipótese, factível, de expansão média mensal de 0,5% ao longo deste ano, a taxa final alcançaria os 9%.
*Silvio Sales é economista da FGV e ex-coordenador de indústria do IBGE |
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