A bem sucedida atuação do Brasil na crise global deixou em segundo plano uma discussão que já ocupou espaço no noticiário: o custo de manter reservas internacionais tão elevadas, hoje em US$ 240 bilhões. O escudo construído pela ação do Banco Central foi muito útil nos momentos em que a economia mundial ameaçava derreter, mas passado o período agudo da crise volta e meia surge a pergunta: qual seria o ponto ótimo das nossas reservas?
Sim, porque esse colchão que nos protege de ataques especulativos e permite ao BC agir no mercado para controlar a volatilidade do câmbio tem um custo fiscal que não é pequeno. Em 2009, chegou a R$ 32 bilhões, diferença entre o rendimento das reservas, aplicadas em títulos do Tesouro americano, e a taxa Selic.
Para neutralizar a entrada dos dólares na economia, evitando o excesso de liquidez, o BC faz as chamadas operações compromissadas, atreladas à taxa básica de juros.
Essas operações — também usadas na administração da política monetária — tiveram um aumento substancial nos últimos anos, especialmente depois que o BC decidiu reforçar o colchão de reservas. Em 2005, correspondiam a 1,72% do PIB; em 2009 já chegavam a 14,52%, com impacto equivalente na dívida interna líquida e na dívida bruta.
O Banco Central faz sua política sem olhar para os custos das reservas, até porque não é esse o papel da autoridade monetária.
No caso, seu papel é manter a inflação sob controle. Mas no momento que se discute o aumento da taxa Selic e se observa o crescimento da dívida bruta do setor público, cabe refletir sobre os custos da política monetária e questionar a opção por reservas tão elevadas.
O economista Felipe Salto, da FGV e Consultoria Tendências, lembra que o acúmulo de reservas reflete a escolha da estratégia de crescimento adotada pelo governo, sustentada na poupança externa. Como o país não tem poupança privada, nem pública, pois o governo optou pelo aumento dos gastos, a saída para o crescimento que se apresenta no momento é a poupança externa.
O Brasil continua a atrair investimentos externos e a tendência é que aumentem nos próximos anos, embalados pela imagem de estabilidade que construímos lá fora.
A questão é que a própria estabilidade e o crescimento futuro podem estar sendo minados pela estratégia atual, que combina uma política fiscal frouxa com a âncora externa.
Combinando com os russos
O presidente da Rússia, Dmitry Medvedev, deve vir ao Brasil em abril. O leque de assuntos em pauta é bastante variado, do tamanho da agenda de dois países que integram os Brics (Brasil, Rússia, Índia e China). A maior participação das nações em desenvolvimento nas grandes decisões mundiais; a reforma das Nações Unidas e a candidatura dos brasileiros a uma vaga permanente no Conselho de Segurança; o fracasso da Rodada de Doha na Organização Mundial do Comércio (OMC); investimentos em obras do PAC são alguns exemplos.
Mas Medvedev terá um pedido especial a fazer ao presidente Lula: quer que o Brasil abra o mercado para o trigo russo. O fato de a Russia ser o principal comprador da carne brasileira será usado como barganha.
Em 2009, nossas importações de trigo foram de 5,4 milhões de toneladas, 98% de Argentina, Uruguai, Paraguai, Canadá e EUA.
Apetite chinês
A demanda dos chineses por commodities continuou forte no início do ano. Em janeiro, as exportações brasileiras de petróleo cresceram 40% no volume e 270% no valor em relação ao mesmo mês de 2009. Já as exportações de minério de ferro subiram 63% no volume e 19% no valor. Para o secretário-executivo do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), Rodrigo Maciel, o resultado de US$ 1,1 bilhão das exportações no mês — mesmo patamar de dezembro — surpreendeu porque em janeiro não há embarque de soja, principal produto comprado pelos chineses.
Voz aos pequenos
O Sebrae está preocupado com o impacto da redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais — em votação no Congresso — no segmento de pequenos e médios empresários. O diretor de administração e finanças da entidade, Carlos Alberto dos Santos, acha que o projeto pode estimular a informalidade: — Temos um debate relevante que não está tendo a participação das micro e pequenas empresas. É bom lembrar que esse segmento garantiu o bom resultado do emprego formal na crise. A redução da jornada terá impacto sobre a rentabilidade e o resultado prático será um estímulo à informalidade.
O Sebrae constatou em sondagem com 3 mil pequenos e microempresários que 63% reprovam a ideia. O setor foi responsável pela criação de mais de 1 milhão de empregos formais em 2009.
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