A ordem partiu da direção da Grande Rio, já na concentração na Sapucaí, na noite de segunda: era para apagar o símbolo da mão com o célebre "nº 1" da Brahma nas camisas do pessoal de apoio do departamento cultural da escola. Começou então um corre-corre da produção com latas de spray dourado para não deixar os vestígios da marca registrada da cerveja, patrocinadora da escola.
Foi apenas um dos conflitos entre publicidade e os desfiles do Rio. A polêmica já havia aparecido em São Paulo, quando a Rosas de Ouro teve de mudar o refrão "O cacau é show" para "O cacau chegou" para despistar a alusão a uma fábrica de chocolates, após protesto da TV Globo. Na Sapucaí, os dissabores foram mais discretos.
O empresário José Victor Oliva, organizador do camarote da Brahma, estava escalado para sair no alto de um carro da Grande Rio representando o espaço VIP. Foi cortado na última hora. A escola achou que já havia "ícones de Brahma" demais no desfile, como o gari Renato Sorriso -destaque de um carro e representado nas fantasias da bateria- e o cantor Zeca Pagodinho, ambos garotos-propaganda da empresa. Temia-se que a sobrecarga irritasse tanto a Globo quanto a Liga das Escolas de Samba do Rio, que vetam merchandising explícito na avenida.
Já a atriz Paola Oliveira, rainha de bateria da escola, desfilou fazendo o "nº 1" com a mão direita. Ela falou à coluna:
FOLHA - O patrocínio da Brahma não compromete a espontaneidade da escola e do samba-enredo?
PAOLA OLIVEIRA - O Carnaval conta uma história. A Sapucaí tem 25 anos e o camarote da Brahma tem 20, então ele faz parte dessa história. Não sei dessas questões de grana, mas se eles colaboraram com a escola, por que não? O "Eu sou guerreiro" [refrão do samba] lembra a Brahma, mas também combina com o povo brasileiro, que é guerreiro mesmo. Está no contexto do enredo.
FOLHA - O que acha de esportistas, como Dunga e Ronaldo, anunciarem bebida alcoólica?
PAOLA - Temos que ser realistas, não hipócritas. Isso [anunciar bebida] é melhor do que tudo aquilo que a gente não vê acontecendo por debaixo dos panos, lá nos poderes superiores. Todo mundo bebe cerveja e tem vida pessoal: os atletas, os artistas, a Madonna... e isso não tira o mérito de ninguém.
Nos camarotes patrocinados pelas cervejas Brahma e Devassa, a maioria dos artistas veste as camisas de propaganda em troca de poder arrastar os amigos para a festa, com entrada livre, comida grátis e bebida à vontade (tão à vontade que a Devassa mandou vetar o uísque lá pelas 3h de terça-feira, devido ao grande número de embriagados).
Na Brahma, a lista dos mais pidões foi encabeçada pelo jogador Ronaldo, que levou mais de 20 pessoas para a área VIP, entre amigos dele e da mulher, Bia Antony. Para conseguir que toda a excursão entrasse, ligou e mandou mensagens várias vezes para a produção do camarote pedindo convites.
Zeca Pagodinho, que fez show no camarote, levou 12 amigos. O jogador Robinho, dez, além da mulher e da sogra. A atriz Susana Vieira, oito pessoas. E Paola Oliveira, contratada como musa do espaço, tinha direito a quatro convites.
(DIÓGENES CAMPANHA e LÍGIA MESQUITA, do Rio)
Serra e Dilma são as pessoas que conheço que mais curtem Carnaval no mundo. Sambam bem, dançam bem, cantam bem e são muito bonitos
JOSÉ WILKER, ator
O baile do Copa é a coisa mais chique do Carnaval. Primeiro: tem muito turista. Segundo: as roupas, tudo smoking. Terceiro: é para quem pode. Tem gays que venderiam a TV para comprar um convite
ISABELITA DOS PATINS, drag queen
Brinco que a Lady Kate é filha da Paris Hilton com o Boy George
KATIUSCIA CANORO, a Lady Kate do "Zorra Total", sobre as brincadeiras que comparavam sua personagem com a socialite americana no Carnaval do Rio
O chão está escorregadio. Eu estava me servindo do jantar e caí, me machuquei, quebrei o prato, foi um tombo horroroso
VERA GIMENEZ, atriz, após cair no baile do Copa
Rapaz, o Brasil tá super na moda, é bem visto por todos. Eu lido bem com o assédio, mas quero me divertir também
RONALDO, sobre o congestionamento de celebridades na Sapucaí
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