A cadeira de governador do Distrito Federal é, hoje, uma cadeira elétrica. Objeto de desejo de políticos, empresários e personagens poderosos que gravitam em torno do poder central, hoje mete medo. Só atrai quem está empenhado em evitar a intervenção federal já solicitada pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel.
Uns temem que ela abra caminho para o fim da autonomia política do Distrito Federal; outros temem pela própria sorte. O governador em exercício, Paulo Octávio, se insere entre os últimos. Para ele, intervenção é sinônimo imediato de auditorias, suspensão de contratos e agravamento de processos judiciais já em curso.
Com a prisão de José Roberto Arruda, o vice-governador pensou em renunciar movido pelo instinto de defesa do empresário: seus negócios, como quase tudo em Brasília, dependem do governo. Construiu um império à base de tráfico de influência que a proximidade permanente do Poder viabilizou.
Mudou de ideia porque lhe enfiaram na cabeça que poderia construir um pacto político em torno desses interesses contrários à intervenção. Não deu certo. Em pouco menos de 48 horas, viu-se sem apoio de seu próprio partido e desmentido pelo presidente da República, a quem atribuíra um conselho para resistir.
Sem apoio para o cumprir o resto do mandato de Arruda, volta atrás, pela segunda vez. Deve entregar até amanhã a carta de renúncia - a segunda, em versão mais elaborada, que elege como pretexto uma conspiração contra a cidade.
A estratégia do "Dia do Fico" ruiu. O efeito foi contrário: sua permanência aumentou as chances da intervenção. E, com ela, o medo maior: abrir o debate em torno da revisão da autonomia política do Distrito Federal.
São exatamente esses dois pontos - intervenção e autonomia do DF - que constituem a espinha dorsal da carta revisada de renúncia que o governador em exercício apresentará na semana que se inicia.
Paulo Octávio jogou a toalha e reconheceu que o sonho de governar Brasília é só um fetiche e que amor mesmo ele tem pelas suas empresas.
Já teve seu momento Aloizio Mercadante, de renunciar à renúncia. Agora, renuncia à renúncia da renúncia.
Faz parte do rol de um grupo conhecido como "os filhos de Brasília", integrado por uma geração que veio para a capital com os pais, em sua maioria, políticos no exercício do mandato durante o regime militar.
Sentiram-se donos da cidade desde crianças. Rivalizaram a disputa pelo poder econômico e político. A galeria é extensa, mas seus personagens mais emblemáticos, são o ex-senador Luiz Estevão, o ex-presidente Fernando Collor, o falecido deputado e empresário Sérgio Naya e ele, Paulo Octávio.
Todos trilharam o mesmo caminho e chegaram ao mesmo lugar.
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