A expressão é um tabu. Com raríssimas exceções, ninguém ousa chamar a coisa pelo nome. Mas a verdade é que o "mensalão" esteve muito presente na cabeça e nas intervenções públicas dos petistas durante o 4º congresso nacional do partido.
Este foi, num certo sentido, o congresso da desforra. O petismo se valeu da popularidade do governo e da força política de Lula para propagar a versão dos vitoriosos -no caso, eles próprios- de que tudo não passou de golpismo frustrado.
Novo presidente do PT, José Eduardo Dutra fez seu discurso inflamado, aos berros, usando como referência a profecia infeliz feita no auge do escândalo por Jorge Bornhausen -"estaremos livres dessa raça pelos próximos 30 anos".
"Não conseguiram acabar com nossa raça" por causa disso, "não conseguiram acabar com nossa raça" por causa daquilo, urrava Dutra, lembrando um pastor em transe diante do auditório de fiéis. Depois dele veio Lula, irônico, soberano: "Nos chamavam de raça. E aqueles que queriam acabar com o PT estão quase acabando". Os delegados petistas vão à loucura ao ver seu líder transformar a corrupção em invenção da "elite" decrépita.
Se a frase de Bornhausen revela a alma profunda e autoritária do PFL, a resposta, irônica ou raivosa, expõe as vísceras do petismo. O partido faz a sua catarse e expia a sua culpa, mas deixa o mal-estar recalcado porque não é capaz de assumir sua vergonha.
Maria da Conceição Tavares comentava sobre sua tristeza de ver uma liderança política com as qualidades de José Genoino diminuída por um processo no qual entrou de gaiato. De fato, o deputado parece ainda estar preso a um luto que o partido na realidade nunca viveu.
O mensalão não está mais entalado na garganta dos petistas. Mas ele segue como ferida aberta, ou um cachorro morto na beira da estrada, do qual a gente logo desvia o olhar para não sentir engulhos ou vontade de chorar.
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