FOLHA DE SÃO PAULO - 13/02/10
SÃO PAULO - Para a sorte do PT, nunca antes na história deste país um escândalo foi tão bem documentado. Meias, cuecas, bolsas recheadas com maços de dinheiro -as imagens do mensalão do DEM são devastadoras. Seria difícil para a gangue do panetone resistir à exposição televisiva de cenas de descalabro tão didáticas e autoexplicativas.
A prisão preventiva do governador José Roberto Arruda atende a um clamor da opinião pública. Tem sido essa, na prática, a punição de alguns ladrões notórios nos últimos tempos: humilhação e mais algumas (ou várias) noites no xilindró funcionam como atalho e compensação simbólica a um processo legal que é interminável e quase sempre passa a sensação de impunidade.
Arruda já era carta fora do baralho antes de ser preso. Em pouco tempo, se viu reduzido a um pilantra de província, um pária sem partido e conexão com a política nacional. Mas isso não era assim.
Dez dias antes da eclosão do escândalo, um sorridente Arruda aparece com o pé quebrado, numa cadeira de rodas, cercado pela cúpula demista, numa imagem histórica. Jorge Bornhausen, Gilberto Kassab, Rodrigo Maia, Ronaldo Caiado, Agripino Maia e mais dezenas de ilustres democratas estão ao redor do anfitrião, num evento destinado a discutir os termos do apoio aos tucanos nas eleições (veja a foto em www.folha.com.br/100435).
O DEM definha e Arruda acabou. Mas é uma ilusão pensar que na sua ausência o faroeste caboclo irá melhorar. A história política do Distrito Federal tem muito menos a ver com a república vislumbrada por Niemeyer do que com o patrimonialismo dos grotões e o vale-tudo típico das regiões de fronteira.
Terra de Arruda e de seu padrinho, o coronel do cerrado Joaquim Roriz, mas também do vice-governador, Paulo Octávio, de Luiz Estevão, o senador cassado, e de Gim Argello, o senador neolulista em ascensão, o DF é uma terra de bravos e de oportunidades. Ali, o arcaico e o pós-moderno se juntaram para desafiar a modernidade do Brasil.
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