quarta-feira, fevereiro 24, 2010

ELIANE CANTANHÊDE

A tripulação inteira sumiu!

FOLHA DE SÃO PAULO - 2402/10


Nos filmes americanos, o piloto some e o copiloto é baleado, mas sempre surge um passageiro que já pilotou um teco-teco um dia na vida e se revela um ás ao pousar um Boeing com 200 pessoas a bordo.
Na realidade do Distrito Federal, o piloto sumiu e não sobrou ninguém. O governo está em voo livre. O governador está preso, o vice renunciou, o primeiro presidente da Câmara Legislativa escafedeu-se e o atual não tem condições políticas (entre outras) para virar ás e assumir o comando.
Sobra o presidente do Tribunal de Justiça, que não quer se aventurar na política, e ainda mais num momento como esse, com fortes turbulências e nenhuma pista segura à frente.
O que sobra? Sobra a intervenção federal, que é uma medida drástica, dolorosa, mas prevista pela Constituição brasileira e instrumento adequado para uma emergência institucional -que é justamente o que ocorre na capital da República.
O
Supremo Tribunal Federal e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já amadureciam essa constatação, mas aguardavam uma decantação do quadro político e o melhor momento para bater o martelo. A renúncia do vice criou esse momento.
O Supremo está dividido, mas tende agora aprovar o pedido da Procuradoria-Geral da República ainda em março, como única saída para a crise.
E Lula, apesar de consciente do ônus de puxar para a esfera federal e para ele uma crise que é local e de adversários, sabia que poderia não ter alternativa.
Só falta escolher o interventor. Alguém que não seja candidato e tenha conhecimento jurídico, biografia limpa e experiência administrativa, além de apoio dos partidos governistas e trânsito na oposição. Ah! E com certo espírito camicase.

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