Lula, Dilma e a "xepa"
FOLHA DE SÃO PAULO - 21/02/10
SÃO PAULO - Esqueça as propostas supostamente radicais apresentadas no Congresso do PT. Esqueça, aliás, o próprio Congresso. Não passa de "uma feira de produtos ideológicos", em que "as pessoas compram o que querem e vendem o que querem". Não, não é a avaliação de algum subintelectual de direita, para roubar a expressão de Dilma Rousseff/Marco Aurélio Garcia, mas da pessoa que mais entende de PT, por ter sido seu idealizador, por ser seu líder de toda a vida e por ser a única figura verdadeiramente popular de um partido que se pretende popular.
Sim, é de Luiz Inácio Lula da Silva que estou falando. As aspas do primeiro parágrafo correspondem a frases suas em entrevista publicada sexta-feira pelo "Estadão".
Alguma chance de as propostas da feira, digo, do PT, serem incorporadas por um governo Dilma? Zero, sempre segundo Lula: "Não há nenhum crime ou equívoco no fato de um partido ter um programa mais progressista do que o governo. (...) O partido, muitas vezes, defende princípios e coisas que o governo não pode defender".
O governo Dilma será mais do mesmo, deixa claríssimo o presidente que inventou a candidata: "Quero crer que a sabedoria do PT é tão grande que o partido não vai jogar fora a experiência acumulada de ter um governo aprovado por 72% na opinião pública depois de sete anos no poder. Isso é riqueza que nem o mais nervoso trotskista seria capaz de perder".
Nem trotskista nem petista de qualquer coloração. As declarações de Lula, de um meridiano sentido comum, mostram que, menos do que uma "feira", o Congresso do PT é a "xepa", o fim de feira em que o pessoal se diverte, lançando uma pilha de teses a que nem os próprios autores prestam atenção porque sabem que o espetáculo é Lula e que Dilma pouco ou nada comprará da "feira".
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