Os sem-palanque
O GLOBO - 07/01/10
Uma reunião da cúpula do DEM com o ex-governador Garotinho, candidato ao governo do Rio pelo PR, agitou o empobrecido cenário político do estado, onde dois dos três principais candidatos à Presidência da República, nas eleições de outubro, não conseguem montar palanques competitivos e se anulam na tentativa de organizar suas bases políticas contra a força do governador Sérgio Cabral, favorito à reeleição e principal apoio da candidata oficial Dilma Rousseff
As críticas ao governador do Rio, por ter demorado a aparecer no local das enchentes em Angra dos Reis, estão sendo atribuídas mais à sua importância estratégica para a candidata oficial à Presidência do que a uma real indignação com o que seria uma atitude displicente do governador, embora seja até o momento inexplicável sua ausência.
De fato, sendo o Rio o terceiro colégio eleitoral do país, é importante para o governo que Dilma tenha aqui uma vitória expressiva, para compensar, pelo menos em parte, uma previsível derrotanos dois outros maiores colégios eleitorais, São Paulo e Minas Gerais.
A candidatura da senadora Marina Silva pelo PV à sucessão de Lula, tirou do tucano José Serra a melhor opção que teria para seu palanque no Rio, o deputado federal Fernando Gabeira.
Ao mesmo tempo, o PV não ganhou esse candidato forte, pois seu tempo de televisão na propaganda eleitoral é tão pequeno que inviabiliza de cara uma vitória, ainda mais contra o governador do PMDB, que tem, ao contrário, tempo de sobra.
É por essa razão que Gabeira tende a se candidatar a deputado federal, já que também para o Senado o tempo dele seria mínimo, o que dificultaria uma possibilidade de vitória em uma disputa que será difícil.
A reunião do DEM com Garotinho não teve consequências políticas maiores porque, por ser candidato ao governo do Rio pelo PR, o ex-governador está impedido liminarmente de apoiar outro candidato a presidente que não seja Dilma Rousseff.
Garotinho chegou a aventar a hipótese de dar a vice para o PSDB, o que aguçou o apetite da vereadora Lucinha, uma das possibilidades citadas.
As nuvens no momento indicam que tanto o PSDB quanto o PV do Rio darão palanques estaduais a seus candidatos a presidente com vereadores candidatos ao governo, que continuam com mandato caso percam a eleição.
Pelo PV, o mais cotado no momento é Alfredo Sirkis e pela coligação DEMPSDBPPS, o vereador Stepan Nercessian. Seria uma solução claramente capenga, que não garantiria palanques fortes para seus candidatos a presidente, permitindo que Dilma Rousseff tenha chance de a brir boa vantagem com uma coligação ampla no estado, capitaneada pelo PMDB.
Mais que para o PV, é crucial para o PSDB nacional tentar fortalecer o palanque do Rio, e, por isso, enquanto os tucanos continuam sonhando com a candidatura de Gabeira, o DEM insiste na candidatura do ex-prefeito Cesar Maia ao governo.
Depois de se reunir com Garotinho, o presidente do DEM, Rodrigo Maia, teve ontem um e ncontro com o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra, onde a situação do Rio foi discutida. Foi reafirmada a coligação do DEM com o PSDB, mas a reação contrária da ala tucana do Rio a essa possibilidade é grande, tanto quanto a um eventual arranjo com o ex-governador Garotinho.
O PSDB do Rio foi oposição a Cesar Maia na prefeitura e não aceita apoiálo para governador agora.
No entanto, ele parece ser a alternativa mais consistente, atrás de Sérgio Cabral e Garotinho. O ex-prefeito aparece como o segundo mais votado para senador no Rio, atrás do bispo Crivela, e o seu partido alega que ele é o candidato da oposição que tem maior potencial de crescimento para o governo do estado caso Gabeira não se candidate mesmo ao cargo.
A alegação dos vereadores tucanos é que Cesar Maia como candidato ao governo prejudicaria mais do que ajudaria a candidatura de Serra. O mesmo alegase em relação ao ex-governador Garotinho.
Na eleição presidencial de 2006, o candidato tucano Geraldo Alckmin chegou ao segundo turno com uma votação acima das expectativas, e a primeira providência foi aparecer em fotos com o casal Garotinho.
Atribui-se à repercussão desse lance a péssima performance de Alckmin no segundo turno, quando ele teve dois milhões de votos a menos que no primeiro turno.
No Rio, o candidato tucano teve os mesmos níveis de voto do primeiro turno (2.406 milhões) enquanto Lula teve mais que o dobro (5.523 milhões).
Em 2002, Garotinho chegou a ganhar de Lula no primeiro turno no Rio (3.449 milhões a 3. 284 milhões), mas o petista, com seu apoio, praticamente dobrou sua votação no segundo turno, livrando quase cinco milhões de votos contra Serra no Rio.
Ainda existe a possibilidade, cada vez mais remota, mas ainda viva pela falta de alternativa, de Gabeira vir a ser candidato a governador com uma coligação regional forte que reuniria PSDB-DEM-PPS e PV e, a nível nacional, frequentar o palanque dos dois candidatos a presidente.
Se a coligação regional lhe daria espaço suficiente na propaganda do rádio e televisão para estabelecer uma disputa real com o governador Sérgio Cabral e o ex-governador Garotinho, a confusa situação de apoiar dois candidatos a presidente ao mesmo tempo não anima ninguém, especialmente ele.
Mas é a melhor solução para o candidato Serra no Rio, e por isso continuará a ser tentada.
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