quarta-feira, janeiro 20, 2010

FERNANDO RODRIGUES

Nuances entre Chile e Brasil


Folha de S. Paulo - 20/01/2010

Depois de 20 anos, o grupo ocupante do poder no Chile foi derrotado. Venceu a eleição presidencial o conservador Sebastián Piñera. Perdeu Eduardo Frei, apoiado pela atual presidente, Michelle Bachelet -cuja popularidade está na casa dos 80%.
Tucanos e petistas têm propagado analogias entre o processo eleitoral chileno e o brasileiro. No PSDB, o raciocínio hegemônico é só intuitivo. Lula tem aprovação de até 80%. Logo, não é certo que haverá transferência direta de votos do presidente para sua candidata ao Planalto, Dilma Rousseff.
Petistas rebatem. Apontam a possível fadiga de material sofrida pelo grupo de Bachelet após 20 anos contínuos no poder.
São observações políticas. Têm algum valor. Mas o aspecto mais relevante a ser considerado talvez seja outro: o estado da economia. No Chile, o clima geral é ruim.
Conforme relatou Thiago Guimarães para a Folha, o PIB chileno avançou a uma média anual de 6,6% nos anos 90. Caiu a 4,3% na primeira metade desta década. Sob Bachelet, o ritmo recuou a 2,7%. No ano passado, deve ter ocorrido queda de 1,6%. O desemprego em 2008 era de 7%. Agora está em 9%.
Ao votar, certamente o eleitor chileno levou em conta a parte mais sensível do corpo: o bolso.
No Brasil, o cenário é quase antípoda ao chileno. Quando Lula tomou posse, a taxa de desemprego rondava os 13%. Hoje, está perto de 8%. O PIB de 2009 estagnou, mas não é o recuo amargado pelos chilenos. Neste ano, o crescimento deve ficar na redondeza de 5%. Tudo coroado pelo Bolsa Família, distribuição de dinheiro a cerca de 50 milhões de pessoas pobres.
Como se observa, a condição objetiva da economia no Brasil é mais favorável ao governo. No Chile, deu-se o oposto. Essa conjuntura, por óbvio, não torna inexorável uma vitória do PT. Só é um fator não desprezível na comparação do quadro eleitoral dos dois países.

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