Não foi o PT nem o PSDB, foram os dois
FOLHA DE SÃO PAULO - 03/01/10
Desde 1996 a linha da melhoria da vida do andar de baixo é contínua, sem inflexões
O PROFESSOR Claudio Salm investigou os números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 1996 e 2002 (anos tucanos) e daí a de 2008 (anos petistas). Ele verificou que a ideia segundo a qual Nosso Guia mudou radicalmente a vida do andar de baixo nacional é propaganda desonesta. Estimando-se que no andar de baixo estejam cerca de 50 milhões de pessoas (25% da população), o que se vê nas três Pnads estudadas por Salm é uma linha de progresso contínuo, sem inflexão petista.
Em 1996, quando Fernando Henrique Cardoso tinha um ano de governo, 48,5% dos domicílios pobres tinham água encanada. Em 2002, ao fim do mandato tucano, a percentagem subiu para 59,6%. Uma diferença de 11,1 pontos percentuais. Em 2008, no mandato petista, chegou-se a 68,3% dos domicílios, com uma alta de 8,7 pontos.
Coisa parecida sucedeu com o avanço no saneamento. Durante o tucanato, os domicílios pobres com acesso à rede de esgoto chegaram a 41,4%, com uma expansão de 9,1 pontos percentuais. Nosso Guia melhorou a marca, levando-a para 52,4%, avançando 11,3 pontos.
O acesso à luz elétrica passou de 79,9% em 1996 para 90,8% em 2002. Em 2008, havia luz em 96,2% dos domicílios pobres.
Esses três indicadores refletem políticas públicas. Indo-se para itens que resultam do aumento da renda e do acesso ao crédito, o resultado é o mesmo.
Durante o tucanato, os telefones em domicílios do andar de baixo pularam de 5,1% para 28,6%. Na gestão petista, chegaram a 64,8% das casas. Geladeira? 46,9% em 1996, 66,1% em 2002 e 80,1% em 2008.
O indicador da coleta de lixo desestimula exaltações partidárias. A percentagem de domicílios pobres servidos pela coleta pulou de 36,9% em 1996 para 64,4% em 2008. Glória tucana ou petista? Nem uma nem outra. O lixo é um serviço municipal.
Nunca antes na história deste país um governante se apropriou das boas realizações alheias e nunca antes na história deste país um partido político envergonhou-se de seus êxitos junto ao andar de baixo com a soberba do tucanato.
NÃO DEU OUTRA, A BANCA TENTOU DE NOVO
O Judiciário entrou em recesso, o presidente do Supremo, Gilmar Mendes, assumiu o expediente do tribunal e renasceu a fúria litigante da banca.
No segunda-feira, dia 28, o Banco Central entrou com um pedido de juntada de documentos ao processo em que se busca o congelamento das demandas da patuleia tungada no século passado pelos planos Bresser e Verão. Esse litígio tem 22 anos, e a banca pode ter toda a razão do mundo, mas sua persistente preferência pelo escurinho das férias do Supremo deslustra sua argumentação.
Em dezembro do ano passado (durante as férias), os banqueiros entraram com um pedido de liminar para se livrar das queixas dos depositantes, que teriam perdido pelo menos R$ 29 bilhões com a tungas federais. (Quem tinha mil cruzados novos na poupança em 1989 poderá receber, na média, R$ 610.)
Gilmar Mendes não viu urgência no pleito e deixou o caso para o tribunal pleno. Em março, o ministro Ricardo Lewandowski negou a liminar.
Vieram as férias de julho e, num novo surto de pressa, a banca pediu a Gilmar Mendes o reexame da decisão de Lewandowski. O ministro indeferiu o pleito.
Novas férias, novo lance. O Banco Central encaminhou uma petição, juntando novos documentos ao processo. Isso era tudo o que informava, no último dia do ano, o portal do STF. As novidades encaminhadas pelo BC podem (ou não) tentar convencer o ministro Gilmar Mendes de que o caso requer um cuidado urgente. Ele já disse duas vezes que os banqueiros podem aguardar o fim das férias.
DEMISSÃO E PICOLÉ
O doutor Nelson Jobim, o general Enzo Peri, o almirante Moura Neto e o brigadeiro Juniti Saito esqueceram-se de duas coisas: 1) Seus cargos sempre estão à disposição do presidente da República. 2) Demissão não se pede, se dá. O que se pede é picolé.
Os comandantes militares aborrecem-se sempre que se ilumina o porão das torturas e assassinatos mantido por seus antecessores nos anos 60 e 70. Pena, porque esse risco era inerente aos crimes que se praticavam. A pergunta estava no ar no próprio porão: "Avançando a "abertura" poderá alguém deter a marcha da Justiça reclamada?" (...) "Não viria a provar ao menos o patrocínio efetivo das Forças Armadas à (sic) ações que qualquer Justiça do mundo qualificaria de crime?" Esse texto é de um escriba do Centro de Informações do Exército, num documento intitulado "Estudo e Apreciação sobre a Revolução de 64", de 16 de junho de 1975, Informe nº 209/ S-102-A3-CIE. Se o general Enzo Peri não puder achar o cartapácio no arquivo do seu comando, talvez consiga na Abin a cópia guardada pelo falecido SNI.
CHEGOU A CONTA
A esquerda sexagenária começou a sentir o tamanho do buraco que os espertalhões do Bolsa Ditadura abriram no casco de sua respeitabilidade.
BWANA BROWN
O primeiro-ministro Gordon Brown ficou "perplexo e decepcionado" porque o governo chinês julgou, condenou e executou um cidadão inglês que fora preso com quatro quilos de heroína numa mala. Há dias Cressida Dick, a policial que em 2005 comandou a operação que assassinou o brasileiro Jean Charles, foi condecorada pela rainha. Brown não ficou perplexo, muito menos decepcionado.
EXPRESSO CNJ
O Conselho Nacional de Justiça pode ter descoberto o elixir da velocidade judiciária. Em novembro ele anunciou que contrataria cinco pesquisas, ao custo de R$ 2 milhões. Os interessados deveriam remeter seus materiais até o dia 17 de dezembro e os vencedores do certame seriam conhecidos até dia 28. O julgamento foi concluído no dia 22, três dias úteis depois do fim das inscrições e cinco dias antes do encerramento do prazo para a seleção. (As propostas foram apreciadas por uma comissão julgadora do CNJ, baseada em "avaliação prévia" de um conselho composto por nove pessoas.)
O CNJ deveria patrocinar outra pesquisa, para disseminar tamanha velocidade em outra áreas do Judiciário.
Se algum interessado tivesse colocado sua proposta no Correio no dia 17 de dezembro (como permitem os editais do gênero), ela chegaria ao CNJ depois do encerramento do certame. Por Sedex, ela chegaria no dia 18, uma sexta-feira, seria analisada e comparada com as demais em apenas dois dias úteis. (As propostas foram 26.)
A ÁGUIA TUCANA
Nem tudo está perdido para a nobiliarquia tucana, Fernando Henrique Cardoso foi incluído na lista de "Cem Pensadores Globais" da revista "Foreign Policy". Seria melhor dizer que essa é a lista de cem pessoas admiradas pela elite cosmopolita, liberal e financeira de Nova York. O companheiro Obama ficou em segundo lugar, atrás de Ben Bernanke, o presidente do Fed e arcanjo da banca. FFHH, em 11º lugar, ficou na frente de Bill Gates (12º) e do papa (17º). Ele contou à revista que gostaria de visitar o Irã. Deve ter feito isso para azucrinar José Serra.
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