O presidente do PSDB, Sérgio Guerra, garante que, se a oposição arrebatar a Presidência da República nas próximas eleições, haverá mudanças importantes na política econômica.
Na entrevista publicada nesta semana pela revista Veja, Guerra foi fundo: "Iremos mexer na taxa de juros, no câmbio e nas metas de inflação. Essas variáveis continuarão a reger nossa economia, mas terão pesos diferentes. Não estamos de acordo com a taxa de juros que está aí, com o câmbio que está aí".
Não é um político expondo sua opinião pessoal. É o presidente do maior partido de oposição, que tem grande possibilidade de eleger o próximo presidente do Brasil, assegurando que dentro de menos de um ano começarão a ser implantadas alterações relevantes para a vida econômica e financeira de todos nós. "Se ganharmos (as eleições), agiremos rápida e objetivamente." Ou seja, não haverá implantação de uma nova política em doses homeopáticas. Isso, por si só, começará a produzir consequências.
Por exemplo: por que fechar um contrato de financiamento habitacional a juros fixos, pelo prazo de dez anos, se em alguns meses os juros poderão mergulhar? Se o real será desvalorizado, convém antecipar importações e até mesmo adiantar o pagamento de contas externas a um dólar ainda barato.
Em compensação, o custo do endividamento em moeda estrangeira pode ficar proibitivo. E não seria esta a hora para fazer um bom pé-de-meia em dólares? Outra boa sugestão seria sair dos títulos de renda fixa e aplicar os recursos em fundos que garantem a variação cambial.
Se essa é uma bandeira partidária é bom que tudo seja rapidamente explicado. Mexer nas regras do câmbio e da política monetária (e, consequentemente, do regime de metas de inflação) não são mudanças cosméticas. Implica alterar "substancialmente" (é o termo utilizado na entrevista) pelo menos dois dos pilares da política econômica implantada pelo governo tucano do presidente Fernando Henrique.
É precipitado concluir que essa seja uma bandeira de ruptura, como era a do PT em 2001. Mas é claramente um discurso que procura enfatizar diferenças.
Uma mudança de layout pode não desarrumar inexoravelmente a economia. Se vier acompanhada de forte ajuste fiscal que, por exemplo, previsse a obtenção do déficit nominal zero - hipótese em que até as despesas com os juros da dívida estariam cobertas; se for assim, os juros despencariam naturalmente.
E a própria inflação ficaria controlada, tornando perfeitamente aceitáveis certos ajustes no sistema de metas. Em todo o caso, as regras de intervenção pretendidas na política cambial teriam de ser imediatamente esclarecidas para evitar especulação e o jogo delineado acima.
Falta saber como reagirá a candidata do governo diante da proposta de "mudanças substanciais" na política econômica feita pelo adversário. Dilma Rousseff faz parte de um governo cuja política econômica é percebida como um sucesso eleitoral. No entanto, na campanha tanto pode migrar para posição semelhante para tentar ocupar os espaços como pode firmar posição contra o candidato que pretende "bagunçar a economia".
Enfim, economia é um assunto sério demais para ser tratado com anúncios pela metade.
Confira
Sob fogo cerrado - O secretário do Tesouro dos Estados Unidos (cuja função é equivalente ao de ministro das Finanças), Tim Geithner, está sob forte pressão dos políticos.
Está sendo acusado de, na condição de presidente do banco central de Nova York, esconder da Securities and Exchange Commission (SEC), a agência reguladora do mercado de ações, as manobras financeiras ilegais e irresponsáveis produzidas pelos dirigentes da seguradora AIG.
Pipocam pela imprensa americana não apenas pedidos de demissão de Geithner. Pedem que seja processado.
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