A ilusão impressa
FOLHA DE SÃO PAULO - 19/12/09
O anúncio foi condenado por mentir sem o retoque digital, Twiggy não é tão louçã e por fazer com que as mulheres tenham uma 'percepção negativa do envelhecimento'. Bem, depende da mulher. Conheço várias que, aos 60, estão tranquilas em serem como são e não sofrem com inveja dos aviões que veem nas fotos. Sabem que nem tudo é real.
De 1969 até outro dia, fui colaborador, repórter ou editor das principais revistas masculinas: Fairplay (a pioneira), Ele/Ela, Status e Playboy. Era íntimo dos fotógrafos, diretores de arte e produtores encarregados de tornarem ainda mais perfeitas aquelas mulheres. Não existia photoshop e, com isso, exigiam-se certos truques.
Segundo eles, maquiava-se a mulher de cima abaixo para esconder imperfeições. Depois, afinava-se a luz para tornar um busto mais rijo ou disfarçar um bumbum achatado. Ao fotografar, escolhiam-se as poses que melhor realçassem as curvas e os volumes. E, depois disso tudo, ainda vinham os retoques à mão no fotolito, no que Carlos Grassetti, da Playboy, era um mestre.
A mais difícil de corrigir foi uma mulher de fulminante, mas curtíssima fama no finzinho dos anos 80, um foguete que todo o Brasil quis ver. E que, a rigor, não viu, porque a deusa – na vida real, um festival de estrias, celulite, escoriações, furúnculos, marcas de vacina, chupões, roxos e cicatrizes de apêndice, bala e navalhada – só existia na página impressa.
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