APESAR DAS hesitações e trapalhadas do governo Obama em relação à América Latina, um dos efeitos mais visíveis do novo governo dos EUA foi o ocaso midiático de Hugo Chávez. Ficou claro que Chávez não passava de um espantalho usado pelo governo de George W. Bush para manter artificialmente vivo um anticomunismo já com morte cerebral decretada. Se a Venezuela desapareceu do noticiário internacional, o Brasil, ao contrário, saiu da posição de nota de rodapé do fim do mundo para a posição de fim de mundo com viés de alta. Mas, ao mesmo tempo, adotou uma política externa que tem nos EUA do governo Obama um importante adversário. A explicação para esse fato curioso talvez esteja no fato de que, com Bush, o Brasil se apresentava como líder regional mediador, como simultaneamente capaz de amansar a fera bolivariana e de conversar amistosamente com os neoconservadores da Guerra do Iraque. Obama chegou, e a política externa brasileira perdeu o rumo. Afinal, o que fazer agora com invencionices como a Unasul (que todo mundo continua a não saber o que é), criadas segundo essa pauta equivocada de liderança regional? O Brasil já se destacou e vai se destacar cada vez mais do resto da América do Sul. Mas o projeto de se tornar o porta-voz internacional da região foi adiado indefinidamente. Primeiro, porque os demais países agradecem, mas não precisam nem querem que o Brasil os represente. E porque, como o resto do mundo, também os países sul-americanos passam por EUA, Europa, China e Japão antes de passar pelo Brasil. Em termos econômicos, o diferencial está na capacidade de internacionalização que tem um país. E isso quer dizer hoje acordos comerciais privilegiados e expansão de empresas nacionais em solo dos Estado Unidos e da China. Na América do Sul, o Brasil, com suas limitações, parece ser o único país em condições de uma empreitada como essa. Ao mesmo tempo, esse expansionismo depende de uma concentração da atividade em solo nacional. Para tentar manter mercado interno, inclusive. A recente fusão dos grupos Pão de Açúcar e Casas Bahia é apenas mais um exemplo do processo acelerado de criação de megaempresas e de quase monopólios. Essa concentração e essa internacionalização têm sido estimuladas e mesmo perseguidas ativamente por organismos governamentais como o BNDES. Ocorre que o desafio da internacionalização tem como contrapartida inevitável uma abertura cada vez maior da economia brasileira. Nem de longe o país está hoje preparado para isso. Muito menos a política externa atual.
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