REVISTA VEJA
Economia limpa • Perspectiva 2010
Carlos Ghosn |
O prazer da emissão zero ao volante
Os carros elétricos, silenciosos e ecologicamente limpos, com
torque imediato e aceleração estonteante, oferecem as mesmas
emoções de um veículo normal, movido a combustão
Os veículos elétricos não são novos na indústria automotiva. Os fabricantes ofereciam carros movidos a bateria 100 anos atrás. Mas, devido às limitações na autonomia, na viabilidade econômica e na infraestrutura, os carros elétricos nunca foram vendidos em massa e o motor a combustão tornou-se padrão.
Hoje a situação está mudando. Os fabricantes de veículos estão lançando projetos para trazer uma variedade de carros elétricos ao mercado nos próximos dois anos. Renault e Nissan vêm investindo para oferecer a tecnologia de emissão zero, em escala global, a partir do próximo ano.
Calculamos que os veículos elétricos podem atingir o equivalente a 10% das vendas globais de automóveis em 2020. Muitos têm dito que somos otimistas demais em nossa previsão, mas continuamos nos fazendo três perguntas fundamentais:
1) O preço do petróleo subirá no futuro?
2) A legislação sobre as emissões será mais rigorosa?
3) O interesse público a respeito do meio ambiente aumentará?
Se você acredita - como nós - que os preços do petróleo tendem a subir e que a preocupação da legislação e do público com o meio ambiente será fortalecida, é fácil concluir que os veículos de emissão zero são a resposta para a redução de gás carbônico (CO2) em um mercado global que prevê 2,5 bilhões de veículos em operação em 2050.
"É a maior mudança na evolução do automóvel. Os modelos com bateria podem atingir o equivalente a 10% do mercado mundial em 2020" |
Em 2007, engenheiros e projetistas da Renault e da Nissan começaram a desenvolver planos para criar um negócio viável baseado no desenvolvimento de nossas próprias baterias e uma gama de veículos apropriados para consumidores de todo o mundo. Apenas dois anos mais tarde, a Renault e a Nissan já têm confirmados oito veículos elétricos: o inovador carro de dois lugares da Renault; o Nissan Leaf; comerciais leves de ambas as marcas; e um veículo de luxo da marca Infiniti.
Em apenas doze meses iniciaremos a entrega do Nissan Leaf aos clientes nos Estados Unidos e no Japão. A Renault começará a entregar o primeiro de seus quatro veículos em 2011, e a oferta de produtos disponíveis será cada vez maior.
Como a Aliança Renault-Nissan pode ser avaliada com relação aos concorrentes? Estamos confiantes na nossa tecnologia de baterias de íons de lítio, que a Nissan vem desenvolvendo nos últimos dezessete anos. Produzimos nossas próprias baterias, por meio de uma joint venture com a NEC. Dessa forma, teremos um controle melhor da qualidade, do custo e a habilidade de responder à demanda prevista. Consideramos as baterias como o ponto principal da tecnologia e do negócio. Paralelamente, por meio de uma associação com a Sumitomo, planejamos um negócio de remanufatura, revenda, reutilização e reciclagem das baterias no fim de sua vida útil, dando a elas uma segunda vida como solução de armanezamento de energia.
Fotos: AFP e Corbis/Latin Stock |
DE VOLTA AO PASSADO Silenciosos modelos elétricos circulavam nos Estados Unidos em 1912, carregados em geradores movidos a óleo |
Somos também o único grupo automotivo que estabeleceu mais de trinta parcerias com governos, municípios, fornecedores de serviço público e outras organizações de modo a preparar a base para a infraestrutura de carregamento e para os incentivos e políticas que vão estimular os consumidores a adotar carros elétricos. A aceitação difundida de carros com emissão zero requer esforços maiores que aqueles que os fabricantes de automóveis podem realizar. Esse sistema ecológico de carros elétricos ajudará a construir economias de escala e reduzir a apreensão do consumidor de comprá-los e dirigi-los.
Felizmente, o momento é favorável à mobilidade de emissão zero. Os governos, as cidades e outros grupos estão chamando a Aliança Renault-Nissan para expressar o interesse em carros com emissão zero e perguntar o que é preciso para assegurar um lançamento bem-sucedido. A rede de parceiros da Aliança estende-se globalmente. Os acordos existem no Japão, França, Dinamarca, Israel, Portugal, China, Estados Unidos, Canadá, México, entre outros países. A consciência sobre a necessidade de carros de emissão zero está crescendo, mesmo antes de os primeiros produtos estarem nas ruas.
Além da consciência, existe um interesse crescente nos próprios veículos. Como a tecnologia é nova, algumas pessoas estão questionando se terão de trocar a emoção de dirigir pelo bom senso de guiar um carro ecológico. A resposta é não, de modo algum.
A aceleração em um carro elétrico é imediata, e a experiência de dirigir é excelente. O carro é silencioso; o único ruído vem do vento e do rolar dos pneus. Não há nenhum cheiro associado ao motor de combustão. Um carro elétrico tem todas as funcionalidades de um carro normal, com todos os benefícios ambientais adicionados como bônus. Acreditamos que as propriedades inerentes a um veículo elétrico moderno - com seu torque imediato e aceleração estonteante - podem fornecer novas emoções à direção.
Os carros elétricos estiveram presentes por um século, por isso não estamos preocupados em ser os primeiros a reintroduzi-los no mercado. A Aliança Renault-Nissan, entretanto, está ansiosa para conduzir o movimento que tornará a mobilidade de emissão zero uma realidade acessível e prática. Abriremos o caminho oferecendo aos consumidores a primeira linha de veículos elétricos para quem quiser possuí-los, dirigi-los e desfrutá-los, além de ter a satisfação de fazer parte da maior mudança na evolução do automóvel.
Carlos Ghosn é CEO da Aliança Renault-Nissan
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