Quando o externo vira interno
FOLHA DE SÃO PAULO - 02/10/09
PARIS - Confesso que a minha primeira reação ao saber que o chanceler Celso Amorim se filiara ao PT foi de incômodo. Não faz tanto tempo dediquei-lhe um texto com o título "Um homem de Estado", elogio (raríssimo neste espaço a quem quer que seja) à sua capacidade e profissionalismo.
Quando um homem de Estado passa a ser também um homem de partido, há um inevitável ruído.
Mas o incômodo se reduziu ao olhar em volta: Hillary Clinton é uma mulher de partido, quase foi candidata presidencial e, não obstante, pode ser a secretária de Estado do principal país do mundo sem que se acuse a política externa de partidarizada.
Aqui mesmo, na França, desembarco no meio da polêmica pelo caso Clearstream, em que um ex-primeiro-ministro, Dominique de Villepin, é acusado de conspirar contra quem era seu colega de gabinete à época, um certo Nicolas Sarkozy, hoje presidente.
Villepin era, então, exatamente o ministro de Relações Exteriores.
Ele e Sarkozy pertencem ao mesmo partido, e a ação de que Villepin é acusado nada tem a ver com "homem de Estado", mas com animais políticos que ambos são.
Não há, portanto, impedimento para que Amorim possa ter ambas as características, embora, no Brasil, a tradição seja a de manter a política externa fora dos palanques em que Amorim anuncia estar disposto a subir.
É até saudável que suba, porque, como diz outro candidato a palanqueiro, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, "é no âmbito político que são tomadas as verdadeiras decisões".
Que se internalize a política externa só pode ser saudável. Ela é cada vez mais importante e, como já escrevi várias vezes neste espaço, não é prudente que seja confinada exclusivamente ao âmbito dos especialistas, que, de resto, são pouquíssimos.
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